ESG, redes sociais e os adoradores de mentiras

Facebook sede Califórnia Misto Brasília
Sede da rede social Facebook na Califórnia/Arquivo

Essa adoração e essa vontade de acreditar em mentiras parece por vezes uma herança lúdica da nossa infância

Por Charles Machado – SC

Nesta semana na Europa, mais um processo investigativo foi aberto, para identificar se a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) viola ou não a Lei dos Serviços Digitais.

Acredita-se que a empresa de Mark Zuckerberg, não está se esforçando o suficiente para conter todas as informações falsas que circulam em suas redes.

Segundo comunicado, da comissão, o processo de investigação formal, deve determinar se a Meta e suas controladas, não estariam utilizando meios suficientes para bloquear a desinformação, nesse período que antecede as eleições europeias.

De forma específica, a Comissão coloca seu foco, nas possíveis infracções relacionadas com a incapacidade de impedir a publicidade enganosa e os conteúdos políticos falsos nos seus serviços.

Em que pese os tradicionais escanda-los, a empresa segue sem disponibilizar um instrumento de rastreamento e compliance como o CrowdTangle, que é uma ferramenta de informação pública para rastreamento eleitoral, sem ao menos divulgar outros instrumento equivalente.

Existe ainda a certeza de que que o mecanismo da Instagram e do Facebook para sinalizar conteúdo ilegal, bem como os mecanismos internos de reclamação, estão muito longe de cumprir os requisitos da Lei de Serviços Digitais e que há deficiências no fornecimento de acesso da Meta a dados publicamente disponíveis para pesquisadores.

A abertura formal de uma investigação, decorre das respostas dadas pela Meta, depois que em setembro último Bruxelas, ter solicitado informações, sobre desinformação e ter recebido um relatório nada conclusivo da Big Tech.

No caso da comissão concluir que a Meta não está de fato usando os recursos necessários para conter a circulação de notícias falsas em suas redes, a Comissão poderá impor uma multa de até 6% do faturamento global da empresa.

Tente imaginar o prejuízo que toda essa desinformação cria para as empresas? Lembro que o trabalho das redes sociais de assepsia digital na exclusão de conteúdo enganoso, ainda que mais pareça com o de enxugar gelo, seja pelo amor da ignorância a mentira, seja pelo fato de que a mentira digital ou não ser sempre um ótimo negócio, seja pelo interesse comercial das próprias redes sociais no tempo em que perdemos com as mentiras, ele é fundamental para saúde das pessoas e das empresas.

Essa adoração e essa vontade de acreditar em mentiras parece por vezes uma herança lúdica da nossa infância, quando nela adorávamos o Pinóquio, não por suas mentiras, mas por sua capacidade de superação, pela possibilidade de um boneco que vira gente caminhar em meio a mentiras e ao longo da sua existência descobrir o valor da verdade.

E claro vem a pergunta quanto de nós adultos, mergulhados nas bolhas do ódio do negacionismo e amantes da ignorância, querem de fato sair do ébrio torpor das nossas mentiras?

Cegueira deliberada
Vivamos um período de uma cegueira deliberada com soluções mentirosas/arquivo/Picuki

Mentira corre mais rápido que a verdade

Nos tempos atuais, onde a vontade de empoderar-se diante do nosso grupo social seja ele de bairro ou dos amigos do futebol no WhatsApp faz com que muitos se preocupem mais com a velocidade na divulgação do que na qualidade da distribuição desse conteúdo, sem se importar com a qualidade desse conteúdo, da desatenção de amigos ou de inverdades, tudo em nome do empoderamento, ainda que ele apenas evidencie a minha ignorância e o meu destempero em distribuir inverdades, logo nos tornamos adoradores de mentiras, de mentirosos e propagadores desse conteúdo ficcional.

Já tentou medir quantas mentiras você já recebeu compartilhadas nos seus grupos de WhatsApp e Facebook só nessa semana?

Quantos delírios aquele tio (a) desavisado já compartilhou no grupo da família no último mês? E aquela sua amiga que nunca leu um livro, e agora entende que inteligência artificial é compartilhar o conhecimento dos outros (ou fake news) e assim ela pensa ser genial?

A democratização do meio fez surgir ou apenas evidenciar figuras pra lá de caricatas nos nossos grupos, fruto dos novos tempos.

Encarar os fatos, por mais amargos que fossem, era o compromisso que George Orwell demandava de qualquer um que o lesse. A recusa à verdade o incomodava profundamente, como neste fragmento do ensaio Culture and Democracy, de 1941: “Uma das piores coisas da sociedade democrática nos últimos 20 anos é a dificuldade de qualquer conversa ou pensamento franco.”

Veja no seu grupo de trabalho, de família ou muitas vezes até nas relações de casais qual o limite que um ou outro estabelece para franqueza, sem que o outro se sinta ofendido ou não veja na sua opinião uma agressão?

Voltando a George Orwell, passados cerca de 80 anos dos seus escritos, os homens, em que pese todas as possibilidades de se identificar na notícia se é fato ou boato, continuam dando espaço para, como num rastro de pólvora, fazer circular mentiras, não se importando com o resultado delas e nem mesmo se desculpando quando tem conhecimento que era fake, o que não me surpreende, afinal, idiotas não excitam, seguem em frente com a ignorância que é seu traço.

Notadamente eu creio que o amor pelas mentiras é filho do desprendimento da relação com o próximo, visto que Fake News são a tentativa da materialização da mentira que gostaríamos que fosse verdade.

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