Nem tudo correu como previsto na campanha e nas articulações e problemas se agravam no Distrito Federal
Por Gilmar Corrêa – DF
Os 100 dias do segundo governo de Ibaneis Rocha (MDB) foram marcados pelo seu afastamento por 66 dias. Nesse período, o governador exerceu de fato a administração por menos de 40%.
A vice-governadora Celina Leão (PP) esteve à frente do governo com a intervenção federal na segurança pública. Equilibrou-se entre o governo federal e os compromissos políticos a partir da campanha eleitoral consagrada ainda no primeiro turno. Uma constelação de partidos políticos tinham que ser atendidos a partir de janeiro.
Nem tudo correu como previsto na campanha e nas articulações. Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador foi afastado por conta das manifestações violentas dos bolsonaristas.
Aliado de primeira hora de Bolsonaro, o ex-secretário Anderson Torres foi apontado pela negligência e omissáo com os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro. Foi preso no dia 14 de janeiro e permanece sob a guarda da Polícia Militar, no Guará, desde àquela data por decisão do ministro Alexandre de Moraes.
Com a volta dos trabalhos legislativos, a Câmara Legislativa abriu uma CPI para apurar a tentativa de golpe. Até agora não conseguiu ouvir o ex-secretário, que se esconde atrás de medidas protetivas do Supremo Tribunal Federal.
Nos últimos 100 dias piorou o serviço de saúde pública. Tanto Ibaneis como Celina Leão admitiram que a situação é de caos. O Hospital de Base, referência no sistema no Centro-Oeste, está mal administrado.
Em meio a severas críticas dos usuários e um constrangimento político, caiu a presidência do Instituto de Gestão de Saúde, responsável pelo Hospital de Base, pelo Hospital de Santa Maria e pelas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Nesta crise, pacientes do Distrito Federal recorrem aos municípios do Entorno para receber atendimento.
Ibaneis Rocha tem feito novas promessas, incluindo a construção de três novos hospitais, em São Sebastião, Gama e Recanto das Emas.
Transporte, saúde e desigualdade social
A saúde é o principal problema da administração Ibaneis, mas não é apenas o setor que tira o sono do contribuinte. O sistema de transporte público presta um serviço crítico. A nova licitação para a concessão dos serviços e as melhorias no sistema ainda são uma grande promessa.
A gestão do transporte no Entorno do Distrito Federal foi abandonado pela Secretaria de Transporte e Mobilidade. Agora, o objetivo é criar um consórcio capaz de assumir e resolver o problema.
O governo distrital ainda tem sérias dificuldades com obras atrasadas. Uma delas, é o túnel de Taguatinga. A maior obra pública do Distrito Federal se arrasta e atualmente não há uma data para a sua inauguração.
Na área da educação, os problemas se acumulam por anos. Há falta de creches e o uniforme prometido para todos em abril virou letra morta. Há problemas nas escolas e os professores reclamam de estrutura. A internet universal para as escolas ainda não foi cumprida.
As relações do governo com o setor produtivo anda bem, mas há uma série de pedidos que estão nas mãos do governador. O principal é abrir crédito e incentivos fiscais para vários segmentos.
A maior preocupação é com a geração de empregos. Melhorou um pouco após a pandemia de dois anos, mas hoje a força de trabalho tem mais de 250 mil trabalhadores sem carteira assinada. A taxa de desemprego total se manteve estável (17% para 16,8%) em março.
Além da situação econômica, há uma distanciamento cada vez maior da renda entre os mais ricos e os mais pobres. O Distrito Federal tem a maior favela do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O Sol Nascente é um símbolo das diferenças sociais, talvez o maior desafio das autoridades locais.
A percepção da desigualdade social está justamente entre o Sol Nascente e o Lago Sul.
“O Brasil tem milhares de pessoas passando por situações de dificuldade, com fome e problemas de sobrevivência. E sabemos que aqui no DF também temos regiões onde há pessoas abastadas e outras onde existe um grau de empobrecimento grande”, disse o governador no dia 2 de janeiro, na posse do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.