Lula da Silva chama embaixador na crise diplomática com Israel

Palácio do Itamaraty Misto Brasília
Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores/Arquivo

A convocação de um embaixador para retornar ao seu país de origem é uma atitude que expressa a contrariedade de uma nação

Por Misto Brasil – DF

Após ser declarado persona non grata pelo governo israelense, em razão de suas fortes críticas às ações militares de Israel na Faixa de Gaza, o presidente Lula da Silva chamou de volta ao país nesta segunda-feira (19/02) o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, repetiu o gesto de horas antes do seu homólogo em Tel Aviv e convocou o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicação. O diplomata deverá comparecer a uma reunião no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, ainda nesta segunda-feira.  

A convocação de um embaixador para retornar ao seu país de origem é uma atitude que expressa a contrariedade de uma nação para com as ações de um governo estrangeiro. Segundo uma nota do Itamaraty, as duas medidas foram tomadas em razão da “gravidade das declarações desta segunda-feira do governo de Israel”.

Referência ao Holocausto

Durante uma visita de Estado à Etiópia, neste fim de semana, Lula, indagado sobre a decisão de alguns países de suspender repasses financeiros à Agência da ONU para os Refugiados Palestinos ( UNRWA ), disse que “o que está apostando na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existe: quando Hitler resolveu matar os judeus”.

Ele classificou como “genocídio” e “chacina” a ocorrência de Israel aos ataques terroristas do grupo extremista Hamas  de  7 de outubro de 2023, e comparou a operação israelense ao extermínio sistemático de milhões de judeus pelos nazistas chefiados por Adolf Hitler, entre 1933 e 1945.

Lula fez declarações durante entrevista em Adis Abeba, na Etiópia, onde participou nos últimos dias da 37ª Cúpula da União Africana e de reuniões bilaterais com chefes de Estado do continente.

Embaixador brasileiro “humilhado”

Meyer foi convocado pelo ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, para uma reunião no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto , onde foi notificado da declaração de Lula como persona non grata (pessoa indesejada, em latim).

O fato do embaixador ter sido exposto publicamente pelo chanceler israelense gerou mal-estar em Brasília. Normalmente, as reuniões com embaixadores para advertências ou reprimendas ocorrem na sede da chancelaria do país.

O gesto de Israel contra Lula aconteceu de maneira surpreendente durante uma coletiva de imprensa entre Katz e Meyer. “Eu trouxe o senhor a um lugar que testemunha, mais do que qualquer outra coisa, o que os nazistas e Hitler fizeram aos judeus, incluindo membros da minha família”, disse o ministro, segundo o jornal The Times of Israel .

“A comparação entre a guerra de Israel contra o Hamas e as atrocidades de Hitler e dos nazistas é uma vergonha”, disse o ministro israelense ao embaixador.

Diplomatas brasileiros citados pela emissora GloboNews avaliaram que a ocorrência de Israel às declarações de Lula da Silva foi “desproporcional”, levando mesmo-se em conta que o petista tenha errado o tom em seus comentários.

A decisão do governo israelense de levar o embaixador brasileiro ao Museu do Holocausto foi vista como uma forma de “humilhar” Meyer e, consequentemente, o próprio Brasil.

Os diplomatas, que não quiseram se identificar, afirmam que a realidade israelense foi “um pouco fora do tom”. “Não existe isso em diplomacia”, afirmou um dos entrevistados.

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