Isso pode? Instagram, Facebook e WhatsApp vão usar as suas fotos

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Os algoritmos conhecem seu padrão de comportamento, a até a sua alegria e tristeza/Arquivo/Agência Brasil

A mudança vai ocorrer na próxima atualização de sua política de privacidade, que inclui a possibilidade de usar textos, fotos ou áudios

Por Charles Machado – SC

O uso a cada dia mais intenso das diversas redes sociais, trazem para o debate novos pontos de vista, principalmente quando o assunto é privacidade.

Afinal, ao expor nossas fotos, vídeos, comentários e curtidas flexibilizamos a nossa privacidade, mas o que as redes sociais podem fazer com as nossas imagens e registros?

Leia – Imagens de crianças brasileiras usadas para treinamento de IA

Nesse momento, a Meta está lançando uma nova política de privacidade, na qual contempla poder usar as fotos dos usuários para alimentar sua IA, e claro, o medo se amplifica.

A mudança vai ocorrer na próxima atualização de sua política de privacidade, que inclui a possibilidade de usar textos, fotos ou áudios de seus usuários em redes como Facebook ou Instagram para alimentar sua IA.

O funcionamento de grandes modelos de linguagem, como o da Meta, requer treinamento baseado em dados e mais dados, e a empresa decidiu aproveitar as informações valiosas que seus milhões de usuários publicam diariamente. Fotos com amigos, filhos, parceiros ou em qualquer lugar do mundo, vale tudo para tornar sua IA mais inteligente e precisa na oferta de mais produtos, serviços e publicidade.

Nas últimas semanas, alguns usuários começaram a receber mensagens de alguns aplicativos da Meta avisando que está planejando novos recursos de IA, então haverá mudanças em sua política de privacidade a partir de 26 de junho.

Mas o que vai acontecer?

O alarme foi acionado quando se descobriu que, com esta nova atualização, muitas fotos e dados privados poderiam estar nas mãos de um robô e disponíveis para uso, permitindo que a IA criasse imagens com semelhanças a pessoas reais e até as vendesse a anunciantes.

A partir de 26 de junho, se o usuário não tiver indicado explicitamente à Meta que não aceita essas novas condições, elas serão aplicadas por padrão.

De forma assustadora, ainda que você recuse, haverá informações do seu perfil que a empresa poderá usar para treinar seu modelo, caso outra pessoa que não tenha recusado compartilhe uma foto onde mais usuários sejam marcados.

Isso acontece porque a máquina pega as informações de todos que aparecem na imagem, sem diferenciar perfis e se eles aceitaram ou não a política de privacidade

No momento, essa ação da Meta é legal graças ao aviso que está oferecendo aos usuários e à possibilidade de que eles não aceitem as novas condições.

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Usuário da internet que se utiliza de celular para o lazer e trabalho/Arquivo/TMLD

Como você pode recusar?

A empresa está habilitando um formulário que pode ser acessado a partir da política de privacidade do Instagram ou Facebook (Menu> Configurações e Atividade > Informações > Mais Informações e Ajuda > Política de Privacidade).

O usuário terá que preencher seu e-mail, país de residência e escrever em um texto como o novo processamento de seus dados os afeta e por que eles estão se opondo a isso.

Depois disso, a Meta avaliará o pedido e o aceitará, ficando, a princípio, fora da nova fórmula da empresa para treinar sua IA. Já imaginou o resultado de toda essa informação nas ferramentas de marketing das redes sociais?

Toda essa informação vai aperfeiçoar ainda mais os algoritmos utilizados pelas empresas de tecnologia e seu poder de persuasão, instrumento perfeito de modulação, em outras palavras, modulação algorítmica.

A modulação algorítmica tem como propósito influenciar os comportamentos como a chamada manipulação de mídia.

A internet registra nossas preferências, através de nossas curtidas, compartilhamentos, leituras, compras, comentários, tudo milimetricamente registrado, desde o assunto ao horário, ao intervalo de curtidas.

Os sites registram os intervalos, sabem perfeitamente distinguir das curtidas protocolares, aquelas que fazemos pra dizer apenas que vimos, ainda que não tenhamos a menor noção do que de fato curtimos, naquilo que antigamente chamaríamos “rir pra não perder o amigo”.

E logo nessa economia da atenção, curtimos o almoço na praia do amigo postado no Instagram, ou a foto da colega na praia, ou o passeio de carro, de lancha, tudo que é postado e que tem relevância pra quem postou e que por isso mesmo ele acredita que seja relevante para o outro, quem melhor registra essa relevância é sempre o algoritmo.

É ele que faz a leitura dos nossos sentimentos, vontades e por estatística edifica nossos perfis, propondo conteúdos, fotos, vídeos, produtos e serviços que gerem mais tempo de atenção ou conversão através de clicks, comentários, compartilhamentos ou aquisição desses produtos e serviços que estão sendo ofertados.

Palavras positivas e dias ruins e bons

Conforme passa o tempo e a nossa “pegada digital” é ampliada pela interconectividade das diversas plataformas, os algoritmos vão calibrando a nossa “bolha social de convívio”.

Como lembra o ativista digital, Eli Pariser, no seu livro “O filtro invisível: O que a internet está escondendo de você”, com os novos métodos de “análise de sentimentos”, já é possível adivinhar como alguém está se sentindo.

As pessoas usam muito mais palavras positivas quando estão se sentindo bem. Analisando uma quantidade suficiente de mensagens de texto, postagens no Facebook e e-mails, é possível separar dias bons de dias ruins, mensagens sóbrias de mensagens bêbadas (muitos erros de ortografia, para começo de conversa).

Na melhor das hipóteses, isso pode ser utilizado para oferecer conteúdo adaptado ao humor da pessoa: num dia ruim no futuro próximo, a rádio Pandora talvez aprenda a nos oferecer o álbum Pretty Hate Machine quando chegarmos em casa.

Mas o método também pode ser usado para se aproveitar da nossa psicologia. Considere as implicações, por exemplo, de sabermos que certos clientes compram produtos compulsivamente quando estão estressados ou quando estão se sentindo mal consigo mesmos, ou até quando estão um pouco embriagados.

Se o perfil de persuasão permite que um aparelho de coaching grite “você consegue” às pessoas que gostam de reforço positivo, em teoria isso também poderia ser usado por políticos, para que fizessem propaganda com base nos medos e pontos fracos de cada eleitor.

Cada mídia com o tempo se especializa no maior aproveitamento, na maneira de gerar a maior “conversão”.

Note que essa obra foi publicada no início de 2012, e que 10 anos em evolução tecnológica e em registro de novos algoritmos é uma eternidade, e logo tente imaginar o que nesse período foi ampliando em termos de usabilidade de gadgets e rastreio?

A Lei Geral de Proteção dos Dados da Pessoa, Lei n° 13.709 de 2018, só ganha efetividade na medida em que você esteja lendo as letras pequenas das políticas de privacidade das redes sociais. Pois então, qual a importância do algoritmo?

O algoritmo identifica através de inúmeros padrões repetitivos quais são suas preferências e é através deste estudo comportamental que a engenharia humana, por meio desses perfis, vai indicar para você qual conteúdo irá ser mostrado na web.

O conteúdo que você recebe de anúncios, por exemplo, é pautado nos seus hábitos de consumo que o algoritmo identificou. Cada vez mais as pessoas deixam de ter uma livre escolha para ter uma escolha modulada por um algoritmo.

É o nosso tempo, a moeda com dados e ao mesmo tempo nosso vício, que nos transforma em escravos nessa relação que em muitos casos beira a enfermidade.

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