Via Sacra de Planaltina atrai milhares de pessoas

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Ator no papel de Jesus Cristo na Via Sacra de Planaltina/Fábio Pozzebom/Agência Brasil

A tradicional Via Sacra, do Morro da Capelinha teve a participação de mil atores e milhares de fieis que foram agradecer

Por Luiz Cláudio Ferreira – DF

No percurso até os calvários, histórias de Marias também são protagonistas em dia de recordar dos sacrifícios de Jesus. A doméstica Maria Aparecida dos Santos, de 48 anos, chegou ao espetáculo da Via Sacra, de Planaltina (DF), a pé, nesta sexta-feira (29).

Queria ver de perto a Ressurreição do “Pai”, mas pretendia mesmo agradecer pela sobrevivência do filho. 

O rapaz, de 26 anos, levou duas facadas no ano passado, passou um mês em uma unidade de terapia intensiva lutando pela vida. “Foi Deus que o salvou”, emociona-se. A luta ainda está em andamento.

O filho está em uma clínica pública para tentar se livrar do vício das drogas e das consequências. “Por isso, a gente precisa ter fé”. Quando Maria chegou, o espetáculo de teatro ainda não havia começado, mas ela estava com pressa para conseguir o melhor lugar.

A tradicional Via Sacra, do Morro da Capelinha, em uma área de cerrado a cerca de 60 quilômetros da capital do país, chegou à sua 51ª edição, com entrada gratuita e participação de 1,4 mil pessoas da própria comunidade.

Pelo menos 1.100 são pessoas que trocam seus afazeres diários para se tornarem atores.  Milhares de fieis foram até o local desde o início da manhã. O espetáculo começou à tarde e seguiu até o inicio da noite.

De protagonistas a figurantes, todos maquiados e devidamente dotados de figurinos que remontam à história da tradição cristã, na qual Jesus Cristo foi torturado e assassinado em uma cruz.

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Maria do Carmo Alves, de vestido, e sua família na apresentação da Via Sacra em Planaltina, DF/Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O coordenador-geral do evento, o dramaturgo Preto Rezende, reconhece que a responsabilidade é grande ao trabalhar com não-atores e se comunicando com a comunidade. “Trabalhamos para pessoas simples. E saímos todos transformados”, afirma o diretor.

Na estrada do calvário de Maria Aparecida, ela recorda que, na próxima semana, terá um dia para visitar o filho que ela só pode ver uma vez por mês. Na luta contra o próprio vício, ele “fica ansioso”, lamenta a mãe. Mas está otimista também porque o filho caçula tem fé como ela. Deu a ele o nome de Juan Jesus.

Logo depois de Maria Aparecida adentrar no espetáculo da Via Sacra,  chega outra Maria e sua família. Maria de Fátima Almeida, 69 anos, 11 filhos e “muitas lutas”. Ela diz que, apesar das dificuldades com empregos e falta de recursos para todos, precisa mostrar a eles sempre o exemplo da própria história.

“Trabalhei na roça desde os oito anos de idade, mas só consegui estudar mais recentemente. Agora estou na terceira série”, conta. Já está em aulas que excederam a alfabetização. Mas os próprios sonhos nunca foram prioridades. Só o babaçu, arroz e feijão que ela precisava colher em cada amanhecer.

Na primeira estação do sacrifício de Jesus, outra Maria se emocionava. Moradora do Núcleo Bandeirante, Maria do Carmo Alves, 69 anos, veio pedir forças no espetáculo que, para ela, não tinha nada de ficção. Ela perdeu na última semana um neto vítima de câncer. “Para mim, é o próprio Jesus que está aqui”.

 

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