Tolstói, Guerra e Paz, as criptomoedas e Putin

Vladimir Putin Rússia caixa de remédio Misto Brasil
Vladimir Putin, presidente da Rússia, com o medicamento antiviral Mir-19/Arquivo/Divulgação

E claro como toda guerra, produz efeitos maiores aos mais fracos e sensíveis, e nesse contexto a guerra atual na Ucrânia

Por Charles Machado – SC

Para os amantes da boa literatura, Guerra e Paz, um romance histórico, escrito pelo autor russo Liev Tolstói, é uma leitura obrigatória. O livro narra a história da Rússia à época de Napoleão Bonaparte (notadamente as guerras napoleônicas na Rússia).

A profundidade do texto, a riqueza e realismo de seus detalhes, bem como suas numerosas descrições psicológicas fazem com que ele seja considerado um dos maiores livros da História da Literatura.

No livro Tolstói, desenvolve uma teoria fatalista da História, onde o livre-arbítrio perdeu sua importância, e logo todos os acontecimentos só obedeceriam a um determinismo histórico irrefutável.

Qualquer semelhança com os tempos atuais, onde a lógica dos algoritmos e o interesse do mercado mandam nas nossas vidas, não será mera coincidência, afinal se o ditador Napoleão pretendia fazer da França um Império, o ditador russo Vladimir Putin, procura dar o tom através das suas permanentes invasões aos países vizinhos, o que também se repete na lógica dominante das Big Techs, que em tudo querem estar.

E claro como toda guerra, produz efeitos maiores aos mais fracos e sensíveis, e nesse contexto a guerra atual na Ucrânia não foge a regra, criando boicotes que prejudicam todo uma população, sua indústria e seu comércio.

Com os inúmeros boicotes sofridos pela Rússia, o próprio banco central daquele país vem afirmando nos últimos meses que as empresas do país precisam priorizar “múltiplas opções de solução de pagamentos” para driblar as sanções impostas ao país.

E, entre elas, estariam as criptomoedas e outros ativos digitais que poderiam ser usados no mercado.

Sabiamente, os criptoativos estão inseridos nas novas tecnologias financeiras criando oportunidades para negócios que não existiam antes.

E por decorrência desse momento, a autoridade monetária daquele país, vem suavizando a sua postura quanto ao uso de criptomoedas em pagamentos internacionais, permitindo o uso de ativos digitais nesses pagamentos.

As ações para uso da tecnologia blockchain, nos Brics vem se intensificando, ainda que esse projeto encontre dificuldades devido ao tempo necessário para criação de um sistema de pagamento internacional.

A Rússia, evidentemente procura soluções para driblar sanções vindas dos EUA e países europeus, ainda que ao mesmo tempo esteja preocupada com uma possível propagação do uso de criptomoedas em seu território, o que poderia enfraquecer sua moeda, o rublo.

Com a preocupação de proteger o rublo, o mesmo BC Russo, emitiu recentemente um comunicado proibindo o lançamento de stablecoins, ao mesmo tempo que também se preocupa com a elevação do consumo de energia devido a instalação de mineradoras no país.

A dinâmica das criptomoedas permite que elas possam ser mineradas em quase qualquer ponto do planeta, bastando ter energia disponível e um baixo custo, e segundo o Ministério da Energia, a Rússia gasta anualmente 16 bilhões de kWh para mineração de criptomoedas, o que representa quase 1,5% do consumo total de eletricidade no país, número esse que só cresce, uma decorrência natural do baixo preço da energia russa.

Ainda que a própria Rússia esteja encorajando suas empresas a usarem criptomoedas para driblar sanções, Putin em recente declaração, lembrou que elas não são unidades monetárias no sentido usual, mas estão sendo cada vez mais usadas no mundo como meio de pagamento em transferências internacionais, uma declaração daquelas em que o médico se preocupa com o tamanho da dose que distingue o remédio do veneno.

Tratando dos stablecoins, o Banco Central da Rússia, já publicou um documento, falando apenas sobre stablecoins, onde explica o conceito, tipos, riscos e como regular essas moedas.

Como exemplo, o texto nota que a maioria das stablecoins tem paridade com o dólar americano.

No entanto, destaca que elas podem ter ligação com outros ativos, como ouro, uma cesta de ativos ou até mesmo outros bens digitais, aparentemente o governo tem interesse nos criptoativos apenas para fora da Rússia, e não no seu comércio interno.

O estudo inclusive exemplifica sobre os riscos de concentração em uma única stablecoin, exemplificando ao caso da stablecoin Tether (USDT) em relação às outras stablecoins.

O estudo vai além falando inclusive da já colapsada Terra USD (UST) e de outras stablecoins algorítmicas, pontuando que existem diferenças entre esses e outros projetos na forma em que eles dão lastro às suas moedas.

Sempre é bom registrar a característica da tecnologia, blockchain, que dá lastro tecnológico a maioria absoluta dos criptoativos, afinal ele é uma tecnologia de registro distribuído que permite o armazenamento seguro e transparente de informações.

Ela consiste em uma cadeia de blocos, onde cada bloco contém um conjunto de transações validadas. Cada bloco é conectado ao anterior por meio de uma função matemática criptográfica, formando uma cadeia imutável de informações.

Entre as suas características principais, que tornam a blockchain única e poderosa. Em primeiro lugar, ela é descentralizada, o que significa que não há uma autoridade central controlando a rede. Em vez disso, as transações são validadas e registradas pelos participantes da rede, garantindo a transparência e a segurança dos dados.

Outra característica é a sua imutabilidade, o que significa que uma vez que uma transação é registrada, ela não pode ser alterada. Isso proporciona confiabilidade e confiança nas informações armazenadas na cadeia.

A segurança é garantida por meio de criptografia avançada, tornando extremamente difícil a alteração ou falsificação dos dados, transparência, segurança e descentralização parecem falar línguas distintas de governos totalitários, e logo para o governo russo as criptomoedas podem funcionar como remédio no primeiro momento, mas podem tranquilamente se tornar um veneno para governos centralizadores e intervencionistas.

O fato é que Putin está preocupado com a sua economia local, e ainda que precise permitir o uso de stablecoins no comércio internacional, também precisa que o rublo continue sendo a principal moeda do país.

Informativo Misto Brasil

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo gratuito no seu e-mail, todas as semanas

Assuntos Relacionados


Informativo Misto Brasil

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo gratuito no seu e-mail, todas as semanas