O grupo de direitos humanos Foro Penal afirma que houve 15.700 prisões arbitrárias por motivos políticos na Venezuela
Por Misto Brasil – DF
“Ela vai apodrecer na cadeia. Ninguém vai tirá-la de lá.”
Foi o que os guardas da prisão disseram à família de Emirlendris Benítez. Ela desapareceu na Venezuela em agosto de 2018, depois que ela e seu parceiro – um motorista de táxi – foram presos enquanto davam carona para alguém até o centro da cidade.
Ela foi arbitrariamente acusada de organizar um complô para matar o presidente e, sem um julgamento justo, recebeu uma sentença de 30 anos de prisão.
Quando ela foi levada para a prisão, ela estava grávida. Os guardas bateram em seu estômago apesar de seus protestos, e ela teve um aborto espontâneo.
A família dela nos conta que ela enfrentou tortura na prisão, inclusive teve suas unhas arrancadas com um martelo.
O grupo de direitos humanos Foro Penal afirma que houve 15.700 prisões arbitrárias por motivos políticos na Venezuela entre 2014 e 2023 e centenas de pessoas continuam atrás das grades.
É uma das muitas maneiras pelas quais o governo reprime a dissidência.
A BBC pediu ao governo e ao promotor um comentário ou entrevista, mas não recebeu resposta.
O presidente Nicolás Maduro está no poder desde que assumiu o lugar de seu mentor Hugo Chávez em 2013 e busca a reeleição no domingo (28).
Fotos dele estão espalhadas pelas ruas e, no último dia de campanha em Caracas, centenas de ônibus foram pagos para transportar pessoas de todo o país para seu comício final, onde pacotes de alimentos gratuitos foram distribuídos como incentivo à participação.
Venus, uma mulher no comício, diz que o partido PSUV de Maduro lhe deu muitos “benefícios”.
“Estamos aqui para apoiar Nicolás Maduro até o fim”, diz ela.
Iván, outro apoiador, diz “aos que se opõem a nós, aos que dizem que não há democracia, que aqui há uma ditadura… esta revolução continuará a brilhar”.
No entanto, até mesmo alguns apoiadores de Maduro foram vítimas da repressão à dissidência.
Uma familiar de Emirlendris, Ana (nome fictício), falou conosco sob condição de anonimato.
A família dela votou em Nicolás Maduro, e Hugo Chávez antes dele, mas agora diz que “tudo mudou porque percebemos como a justiça funciona na Venezuela”.