Sobre a autonomia do Banco Central

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Gabriel Galípolo é citado para assumir a presidência do Banco Central/Arquivo/Agência Senado

Dado o atual quadro, a pergunta que não quer calar salta aos olhos – o suposto favoritismo de Gabriel Galípolo está mantido?

Por André César – SP

As recorrentes (e crescentes) críticas do presidente Lula da Silva (PT) ao mercado financeiro, à autonomia do Banco Central e em especial seu presidente, Roberto Campos Neto, contribuem significativamente para a alta do dólar e ameaçam também gerar uma alta da inflação.

Essa é uma realidade inquestionável, que inclusive mobilizou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e outros economistas a pressionar o titular do Planalto a ao menos moderar o tom dos ataques. No entanto, um recuo de Lula da Silva nesse momento poderia significar uma derrota do presidente.

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Dito isso, constata-se uma movimentação, no âmbito do Congresso Nacional, em torno da questão da autonomia do BC. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal (CCJ), comandada pelo poderoso neoaliado do governo Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), discute uma proposta que amplia os poderes da instituição. Em linhas gerais, a matéria concede também autonomia administrativa e financeira ao banco. Tudo o que o presidente da República não quer.

Aqui a situação se complica. Cotado para assumir o comando do BC quando Campos Neto deixar o posto, no final do ano, o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo (em tese um homem de Lula), declarou em recente evento da Fundação Getúlio Vargas, que a autonomia representa um “avanço institucional” e sinalizou apoiar a proposta ora em discussão. Mais ainda, na última reunião do Copom, ele votou favoravelmente pela manutenção da atual taxa de juros, batendo de frente com o discurso do atual mandatário.

Dado o atual quadro, a pergunta que não quer calar salta aos olhos – o suposto favoritismo de Galípolo está mantido? Trata-se de questão que incomoda e preocupa o mercado e o mundo político, aliados do Planalto incluídos nesse pacote.

Há quem defenda que o presidente da República antecipe o nome do próximo chefe do BC. Por essa avaliação, a medida frearia a alta do dólar e conteria um aumento da inflação. A depender do perfil do indicado, essa tese pode ser colocada em xeque.

O fato é que, caso modere ou até mesmo pare com as críticas, Lula da Silva pode dar um sinal de fraqueza. Nesse caso, abriria um flanco para a oposição atacar ainda mais a atual gestão. Às vésperas das estratégicas eleições municipais, esse cenário seria muito ruim para o titular do Planalto e seu grupo político.

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