Redes sociais e a saúde dos nossos filhos

Criança celular jogos Misto Brasília
As novas gerações não dispensam o uso de novas tecnologias como em jogos/Arquivo

Há uma sugestão para que o Congresso dos EUA determine que as redes sejam rotuladas com uma advertência, similar ao tabaco

Por Charles Machado – SC

Seu filho usa celular? Quanto tempo por dia ele usa o celular? Ele já está em alguma rede sociais? Quanto tempo por dia ele passa nas redes sociais? Você sabe quem faz parte dessa rede e o que ele faz nela?

Quantas dessas perguntas acima os pais de hoje poderiam responder de forma precisa?

Quando celulares são um sumidouro da atenção dos nossos filhos, com designs perfeitos na absorção do tempo de da atenção registrando mais e mais dados dos nossos rebentos, a luta é injusta, afinal enquanto somos censores dos nossos hábitos as Big Techs são a nicotina para olhos viciados.

Um receio fundado que encontra a cada dia mais aliados, como a governadora de Nova York, a democrata Kathy Hochul, que em junho sancionou dois projetos de lei que tentam proteger crianças e adolescentes dos danos das mídias sociais.

Segundo o The Verge, um dos projetos de lei, o Stop Addicitive Feeds Exploitation (SAFE) for Kids Act, tornará obrigatório o consentimento dos pais para que as empresas de mídia social usem “feeds viciantes” alimentados por algoritmos de recomendação em crianças e adolescentes menores de 18 anos.

A outra norma limitaria a coleta de dados de menores sem consentimento e restringirá a venda de tais informações, mas não exigiria verificação de idade. Essa lei entrará em vigor em um ano.

Embora as abordagens variem um pouco entre os partidos (democratas e republicando), os legisladores de ambos os lados sinalizaram interesse em regulamentações semelhantes para proteger as crianças na internet.

Na Florida o governo sancionou em março um projeto de lei que exige o consentimento dos pais para que crianças menores de 16 anos tenham contas nas redes sociais. E em maio, o governador de Maryland, sancionou um amplo projeto de lei sobre privacidade, bem como o Maryland Kids Code, que proíbe o uso de recursos destinados a manter menores nas redes sociais por longos períodos, como reprodução automática de vídeos ou notificações de spam.

Os apoiadores da Lei SAFE for Kids de Nova York declararam que o seu objetivo é “proteger a saúde mental das crianças dos feeds viciantes utilizados pelas plataformas de redes sociais e das perturbações do sono devido ao uso noturno das redes sociais”.

Além das restrições do algoritmo, a lei impediria as plataformas de enviar notificações a menores entre meia-noite e 6h sem o consentimento dos pais. A lei entraria em vigor 180 dias após as regras estabelecidas pelo do Procurador-Geral, e o estado poderia então multar as empresas em US$ 5.000 por violação.

Eu um recente artigo publicado no New York Times, o chefe da saúde pública (surgeon general) dos EUA, Vivek H. Murthy, alertou que “a crise mental entre jovens é uma emergência e as mídias sociais surgiram como um fator importante.

Murthy defende que o Congresso determine que as redes sejam rotuladas com uma advertência, similar à implementada para o tabaco, que rememore pais e adolescentes de que elas não se provaram seguras, ou seja as redes sociais são a nova nicotina.

Os números comprovam, pois nos últimos 10 anos houve uma escalada de casos de solidão, ansiedade, depressão, comportamentos autodestrutivos e suicídios entre adolescentes, especialmente meninas. Historicamente, o senso comum é de que os jovens experimentam níveis maiores de felicidade, que declina ao longo da idade adulta e se recupera na velhice.

Revisando dados de 82 países, o economista David Blanchflower constatou que essa trajetória em U foi subvertida. Hoje, os jovens são os mais infelizes. O Relatório Mundial da Felicidade identificou o mesmo padrão. É precisamente a geração que passou a fazer uso diário e intenso das redes através de smartphones.

Recentes pesquisas mostram que usuários frequentes têm mais chances de sofrer de transtornos de humor e que aqueles que se abstiveram por pelo menos uma semana experimentaram benefícios mentais.

Zumbis de redes sociais

Não precisa de muito esforço para perceber o caminhar feito zumbis em nossas casas, hipnotizados pelas telas dos celulares, comportamento que se repete nas mesas de casas e restaurantes.

É preciso aprofundar um marco regulatório para o uso “saudável”, desses dispositivos digitais que se alimentam da nossa atenção, formando uma geração de desatentos.

Lembro que em 2021 em Davos, Marc Benioff, não apenas destacou a participação e a interferência das redes sociais como também as violações de privacidade, que na opinião dele comprovavam a necessidade de regulamentação das empresas de tecnologia.

O receio dele é tamanho, que ao conceder uma entrevista ao jornalista Andrew Ross Sorkin da CNBC, o executivo soltou uma pérola que repercutiu em todo universo, quando comparou as redes sociais a indústria do tabaco:

“Trata-se de um produto viciante, como os cigarros, que a gente sabe que não faz bem para saúde”. Logo, seriam as redes sociais a nova nicotina, com escrevi em artigo anterior?

Afinal bolhas, filtros, algoritmos, preconceito, economia de atenção, liberdade de expressão, autonomia informacional, tudo isso nós encontramos, junto e misturado, no universo das redes sociais.

Entre os cinco sites mais acessados no mundo, quatro são redes sociais, isso dá a dimensão do papel delas em nossas rotinas.

E se você fizer uma pesquisa entre seus amigos sobre onde eles leram, viram ou ouviram a notícia compartilhada, vai ter a certeza de que as redes sociais podem estar criando um universo paralelo, onde o conteúdo recebido é filtrado pelos algoritmos das redes sociais com o único propósito de reter sua atenção.

O negócio das redes sociais é e sempre será sua atenção, mantendo a lógica de quanto mais tempo mais dados, quanto mais dados, mais tempo, e assim se vende publicidade, produtos, serviços e marcas, que são construídas, logo imagine tudo isso apontado para o seu filho?

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