Os índices de desemprego devem crescer, e logo teremos mais máquinas e menos pessoas, o que representa um consumo menor
Por Charles Machado – DF
Segundo um estudo publicado pela tradicional revista de medicina The Lancet (fundada em 1823), estamos vivendo uma grande queda na taxa de fecundidade em todo o mundo, e claro esse é mais um dos enormes desafios para o nosso futuro, como assim?
Nesse momento, as pessoas estão vivendo mais do que nunca, o que é bom, sim e não, pois por mais que muitos de nós estamos em busca da imortalidade, correndo para alongar o nosso período de vida na terra, esse período aqui cobra um preço significativo, seja no mercado de trabalho ou nos sistemas de saúde e previdência, pois mantidas as regras de aposentadoria, caminhamos de forma celerada para a quebra de muitos dos sistemas de previdência.
O aumento da expectativa de vida, gera desafios, mas também gera oportunidades, porém quando ele vem acompanhado da queda de fertilidade, temos uma equação, bem difícil de ser solucionada.
Na medida que os benefícios do crescimento econômico e os avanços da medicina e da saúde pública se espalham, a maior parte do mundo passou por uma transição semelhante (transição demográfica), mas muito mais rápida.
Como resultado, o número de pessoas quadruplicou nos últimos cem anos, passando de 2 bilhões para 8 bilhões. Ao longo do tempo, no entanto, a taxa de natalidade acompanhou a mortalidade. O resultado foi uma queda nos nascimentos na maior parte do mundo.
Voltando ao estudo publicado pela revista The Lancet, “as taxas de natalidade estão caindo em todo o mundo, com taxas em mais da metade de todos os países e territórios em 2021 abaixo do nível de reposição”.
Para o mundo como um todo, a taxa de natalidade foi de 2,3 em 2021, pouco acima do nível de reposição, contra 4,7 em 1960. Para os países avançados, a taxa de natalidade foi de apenas 1,6, em comparação com 3 em 1960.
Em geral, os países pobres continuam a ter taxas de natalidade mais elevadas do que os países ricos, mas também diminuíram, o que coloca o farol das oportunidades para os países mais simples, onde novos consumidores entram no radar.
Porém o que pode explicar esse colapso nas taxas de natalidade? Primeiro vem a queda da mortalidade infantil, que se soma ao custo de vida das famílias, que a cada dia vem optando por apenas um filho, aprimorando o controle de natalidade, porém se cada casal tem apenas um filho, o que devemos ver é a queda da população, que somada ao aumento da expectativa de vida, desenha um mundo onde seremos mais velhos e com poucos novos consumidores entrando no mercado.
Esse aumento de controle de natalidade é uma regra quase que absoluta para o mundo atual, ainda que com índices diferentes em todos eles, a regra geral é a queda, mesmo em países como o Irã dos mulás, onde a taxa de natalidade despencou de 6,6 em 1980 para 1,7 em 2021.
Uma das principais razões para essa mudança é que, para seus pais, os filhos deixaram de ser um valioso ativo produtivo para se tornarem um bem de consumo caro, como salienta Martin Wolf em recente artigo.
Isso ocorre em parte porque a economia recompensa esse tipo de trabalhador. Mas uma educação prolongada significa um aumento no custo das crianças, tanto em tempo quanto em dinheiro, sim afinal com um mercado de trabalho a cada dia mais difícil, o custo da educação sobe pelos inúmeros cursos de extensão e capacitação dos nossos filhos.
Além disso, a participação das mulheres na economia aumentou consideravelmente no século XX, o que influencia na escolha por apenas um filho, ou nenhum.
Mulheres no trabalho, mais máquinas e menos emprego
Em The Economics of Fertility: A New Era, um excelente estudo publicado pelo National Bureau of Economic Research em 2022, os autores argumentaram que onde a assistência pública aos filhos é mais generosa, as mulheres são encorajadas a combinar sua profissão com a maternidade.
A ausência dessa ajuda explica as taxas de natalidade excepcionalmente baixas em grande parte do Leste Asiático e do Sul da Europa, onde o apoio aos pais é limitado. No entanto, isso já não é tão claro: as taxas de natalidade caíram muito abaixo do nível de reposição, mesmo nos países escandinavos, apesar de suas políticas de bem-estar.
Esta mudança global para uma taxa de natalidade muito baixa, com excepção da África Subsariana, é um dos acontecimentos mais importantes do nosso mundo. Uma de suas consequências é que, até 2060, a população da África deverá ser maior do que a de todos os países de alta renda atuais, além da China.
Outra é que as conhecidas pirâmides populacionais, com os números mais altos nas idades mais jovens, estão sendo invertidas.
Em países como a Coreia do Sul, os homens de 50 a 54 anos representam 4,3% da população, enquanto os de 0 a 4 anos representam apenas 1,5%.
Uma taxa de natalidade tão baixa irá, sem dúvida, criar enormes desafios.
Um deles é como manter os sistemas de aposentadoria ou de saúde à medida que a população em idade ativa diminui drasticamente. Uma resposta será, sem dúvida, uma vida profissional muito mais longa.
Outra poderia ser a imigração. Mas a imigração necessária para estabilizar a população em sociedades de baixa natalidade, especialmente onde as taxas são mínimas, seria enorme e, como tal, certamente politicamente e até praticamente inviável.
Para além destas questões, há a questão de saber se a escassez de jovens privaria inevitavelmente uma economia da assunção de riscos de que depende o progresso. Ao mesmo tempo, uma população menor ajudaria, a longo prazo, a reequilibrar as demandas humanas com a capacidade de suporte do planeta e a saúde das outras espécies com as quais o compartilhamos.
Com a redução de novos consumidores e com o uso a cada dia mais intenso de máquinas substituindo homens, os índices de desemprego devem crescer, e logo teremos mais máquinas e menos pessoas, o que representa um consumo menor e um desemprego maior, e log o efeito disso na sociedade obriga-nos a repensar.
Viver é claro uma benção da ciência, mas como vamos manter se uma política que crie empregos e que possa sustentar a aposentadoria?