Único teatro negro da Alemanha é dirigido por um brasileiro

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Wagner Carvalho dirige um teatro na Alemanha desde 2013/Zé de Paiva/DW

Desde que Wagner Carvalho assumiu o teatro, o programa da casa tem focado em histórias principalmente negras e queers

Por Misto Brasil – DF

“Ainda tenho um milhão de coisas para fazer”, diz Wagner Carvalho, diretor artístico do teatro Ballhaus Naunynstrasse em Berlim, poucas horas antes da estreia da noite, escreve a Agência DW.

O brasileiro Wagner não é somente responsável pela direção artística da casa – o único teatro negro da Alemanha, segundo o jornal alemão FAZ.

Na falta de mão de obra, é Wagner quem também faz transferências bancárias, escreve candidaturas para bolsas, prepara orçamentos e, quando é preciso, passa o aspirador de pó nas salas do prédio antigo do bairro de Kreuzberg.

“Às vezes até incomoda”, diz, sorrindo.

A importância das questões financeiras da casa é destacada por um calendário de editais na parede, que se estende por inúmeros post-its. O Ballhaus Naunynstrasse, um teatro pequeno que existe num antigo salão de bailes desde 1982, depende de recursos externos para sobreviver.

“O histórico dessa casa é um histórico de muita conquista”, comenta Wagner. “Às vezes acontece de a gente ter muitos projetos financiados. E tem vezes que não temos dinheiro, e aí, a gente tem que se virar.”

Foi esse talento de saber “se virar” que trouxe Wagner para o teatro e de Belo Horizonte para Berlim, nos anos 1990. O mineiro começou a fazer teatro e dançar balé com 12 anos de idade. Aos 20 anos, já dirigia o Núcleo de Estudos Teatrais, uma escola de teatro livre em Belo Horizonte.

Em função desse trabalho, Wagner ganhou uma bolsa para estudar alemão no Instituto Goethe.

Ainda na ditadura militar, Wagner percebeu que, para ele, o teatro é político. “O teatro me trouxe a consciência política e a consciência de existência enquanto homem negro na sociedade brasileira”, afirma.

Seu processo de politização começou com o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, cuja obra aspira à transformação social e à igualdade através do teatro.

Desde que Carvalho assumiu a direção do teatro em 2013, o programa da casa tem focado em histórias principalmente negras e queers.

Perspectivas que ainda são raras na Alemanha: Carvalho e a afro-alemã Julia Wissert, que desde 2020 dirige o Teatro Dortmund, são até hoje os únicos diretores de teatro negros no país em um mercado onde homens brancos ainda são a maioria, segundo o jornal alemão Die Zeit.

Foi por causa dele que Wagner viajou à Alemanha pela primeira vez, em 1991, com uma bolsa do Instituto Goethe. “Eu vim para a Alemanha para conhecer Brecht”, conta.

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