Novas tecnologias e a mudança de cultura na mobilidade

Bicicleta mobilidade urbana Misto Brasília
A bicicleta é um meio de transporte integrado à política de mobilidade urbana/Arquivo/Instituto Trata
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As ruas devem ser das pessoas com o papel regulador dos municípios pelo alargamento de calçadas e obrigatoriedade de bicicletários

Por Charles Machado – SC

No universo criativo do mundo dos negócios, nada se mantem para sempre além da vontade de bons resultados financeiros, a mola do sistema sempre é a expectativa futura de lucro, é essa expectativa que carrega os valores das empresas listadas nas bolsas do mundo inteiro, e claro a tecnologia que represente um domínio por essa ou outra empresas servem como catalizadores desses valores.

Nesse momento duas das três maiores montadoras de automóveis do mundo em valor de mercado, Tesla e BYD, são também líderes mundiais na produção de veículos eletrificados (elétricos e híbridos recarregáveis), ainda que o número de carros produzidos por essas duas montadoras as mantém muito distante das 10 maiores montadoras de automóveis do mundo, o que se explica, mais uma vez pela posição estratégica dessas montadoras no futuro eletrificado da mobilidade.

Junto com esse domínio, vem um universo de transformações legais e de infraestrutura como os pontos de carregamento e a velocidade dessa recarga, afinal o evoluir de novas tecnologia, implica em uma mudança em inúmeros segmentos cuja correlação é inimaginável.

Porém, destaco que o lado bom do conhecimento científico, é que por não se baseado na fé ou na paixão por falsos mitos, ele se corrige e é dinâmico, logo algumas premissas que são verdadeiras hoje, podem ser modificadas com a prova científica de um novo estudo, mas não por fé ou delírio de ídolos e governantes de plantão.

Esse destaque que faço é bem exemplificado por Stuart Russel no livro “Inteligência artificial a nosso favor: Como manter o controle sobre a tecnologia”, que destaca uma passagem histórica da ciência, “O progresso científico é notoriamente difícil de prever.

Para termos ideia disso, basta examinarmos a história de outro campo com potencial para acabar com a civilização: a física nuclear. Nos primeiros anos do século XX, talvez nenhum físico nuclear fosse mais notório do que Ernest Rutherford, o descobridor do próton e “o homem que dividiu o átomo”.

Como seus colegas, Rutherford sabia muito bem que os núcleos atômicos armazenavam quantidades imensas de energia, mas predominava a opinião de que era impossível explorar essa fonte de energia. Em 11 de setembro de 1933, a Associação Britânica para o Avanço da Ciência realizou sua reunião anual em Leicester. Lorde Rutherford falou na sessão da noite.

Como fizera muitas vezes antes, jogou um balde de água fria na perspectiva da energia atômica: “Qualquer pessoa que busque uma fonte de energia na transformação dos átomos está falando bobagem”. O discurso de Rutherford foi noticiado pelo Times de Londres na manhã seguinte. Leo Szilard, físico húngaro que tinha acabado de fugir da Alemanha nazista, estava hospedado no Imperial Hotel, na Russell Square, em Londres.

Leu a notícia do Times no café da manhã. Enquanto refletia sobre o que tinha lido, saiu para uma caminhada e inventou a reação em cadeia induzida por nêutrons. O problema de liberar energia nuclear passou da condição de impossível para a de basicamente resolvido em menos de 24 horas.

Szilard requereu uma patente secreta para um reator nuclear no ano seguinte. A primeira patente para arma nuclear foi concedida na França em 1939. A moral dessa história é que apostar contra a criatividade humana é temerário, em especial quando nosso futuro está em jogo.”

Nesse momento assistimos ao embate da mobilidade entre o coletivo e o uso individual dos nossos veículos, que teimosamente circulam por nossas cidades com apenas uma pessoa, o condutor. Logo lembro que se nos primeiros anos a defesa das bikes e das ciclovias era uma conversa de gente alternativa, hoje adotar bikes, patinetes e outros meios de micromobilidade passou a ser uma necessidade. Um enfrentamento a lógica que nos levou a imobilidade de privilegiar o deslocamento através de carros, ao invés da aposta nos meios de transporte coletivos.

A mobilidade está no centro do repensar nossas vidas, desde uma aula que podemos fazer de forma remota evitando o deslocamento até um novo regramento para os edifícios comerciais e residenciais que precisam ampliar os espaços para estacionamento de bikes e patinetes elétricos, mostrando que a sustentabilidade não é apenas um discurso de moda, mas um caminho obrigatório, onde todos participam.

Nesse momento discutir as garantias de deslocamento das pessoas nas cidades de forma sustentável e equitativa está na pauta das prioridades, que precisam promover a conexão da mobilidade urbana disruptiva, sustentável e inclusiva.

A transformação digital de nossas vidas, é transversal e logo muda hábitos rotineiros, e por isso o convívio harmonioso de carros, motos, bikes, patinetes e pedestres está na ponta desse desafio inclusivo.

Até 2030, o mercado mundial de mobilidade vai crescer cerca de 75%, segundo dados do Oliver Wyman Fórum, saindo de US$14,9 trilhões, em 2017, para US$ 26,6 trilhões, em 2030, mais do que uma participação per capita da economia esses números indicam a urgência do repensar regulatório.

As ruas devem ser das pessoas e dos automóveis em segundo plano, logo o papel regulador dos municípios passa, pelo alargamento de calçadas, obrigatoriedade de bicicletários em maior número nos prédios, comerciais e residenciais, o que de imediato ampliaria o uso desses equipamentos, e a empregabilidade na construção civil na edificação e instalação desses equipamentos. Pense apenas na padronização e alargamento das calçadas e ampliação das ciclovias?

Usando uma terminologia bem atual é preciso reduzir o empoderamento dos veículos, veja por exemplo o tamanho da renúncia fiscal que União e Estados concedem as montadoras de automóveis e procure saber o que ofertam aos fabricantes de outros modais logísticos? Só isso já pode dar a dimensão do lóbi a ser enfrentado.

 

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