Conflito e pirataria no Mar Vermelho prejudica o Brasil

Mar Vermelho Houthis ataque a navio Misto Brasil
Mar Vermelho se tornou uma zona de guerra com os ataques dos Houthis/Divulgação
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No Brasil, 95% das vendas externas são possíveis através da navegação marítima. A crise começou a ser sentida desde fevereiro

Por Misto Brasil – DF

Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento apontam que cerca de 80% do comércio global se dá por via marítima. No caso do Brasil, esse percentual é ainda maior, girando em torno dos 95%, de acordo com a Associação Brasileira de Logística, Transportes e Cargas.

Os conflitos e a pirataria na região do Mar Vermelho, por onde circula cerca de 15% do tráfego mercante mundial, embora geograficamente distantes do Brasil, geram impactos nos prazos de entregas de importação e exportação, ao criar empecilhos à livre navegação comercial.

Também encarecem os custos do transporte marítimo, com o aumento de seguros dos navios, por conta da preocupação com a segurança; a adoção de medidas de proteção adicionais; e a necessidade de desviar navios por rotas mais longas.

Em 12 de fevereiro, o navio graneleiro “Star Isis”, que transportava uma carga de milho brasileiro, entre Vila do Conde (PA) e o porto iraniano Band Imam Khomeini, foi atacado por mísseis disparados pelos Houthis quando navegava próximo ao Iêmen. O Irã é um expressivo importador desse cereal brasileiro (cerca de 4,5 milhões de toneladas/ano).

Segundo especialistas, a crise no Oriente Médio já começou a ser sentida aqui no Brasil a partir de fevereiro.

A primeira mudança foi uma alta no preço dos fretes, que deve impactar o valor final de bens de consumo. Como o frete da Ásia para a Europa já aumentou, isso impactará os custos no Brasil, pois quase 30% do que o País importa da Ásia passa pela Europa. Ou seja, os conflitos no Mar Vermelho serão sentidos no bolso dos brasileiros.

É o que defende o Coordenador do Grupo Economia do Mar e professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval, Thauan Santos. Segundo ele, considerando que parcela significativa do que consumimos no Brasil vem da Ásia, o conflito pode afetar mais diretamente o preço dos principais produtos importados.

Mar Vermelho navio é atacado por drones Misto Brasil
Ataques realizados pelos rebeldes Houthis do Iêmen/Divulgação/Marinha

“Uma estratégia para evitar impactos tão imediatos e intensos é diversificar a origem das importações e aumentar a autossuficiência em determinados setores. A primeira delas tem relação direta com a política comercial; a segunda, com política industrial. Como dificilmente podem ser alteradas no curto prazo, uma primeira preocupação é manter o acesso aos produtos importados. Nesse contexto, garantir e/ou assinar novos contratos, adicionar novas cláusulas sensíveis à conjuntura internacional e usar instrumentos combinados de mitigação do impacto sobre a inflação devem ser ferramentas usadas em conjunto”, explica o professor.

Para Thauan, outra estratégia para mitigar os impactos dos ataques ao tráfego marítimo é apostar na dissuasão por meio do emprego do Poder Naval. Nesse contexto, a presença e atuação de navios de marinhas como a norte-americana e britânica são essenciais. “Assim, pode-se oferecer respostas rápidas e eficientes às mais diferentes formas de ameaças”, sublinha.

A ameaça ao transporte de cargas não é a única vulnerabilidade marítima explorada por grupos ou países que empregam táticas de guerra irregular, como a sabotagem.

As comunicações globais são outra preocupação, tendo em vista que a quase totalidade do fluxo de informações via internet se dá por cabos submarinos. Segundo o portal TeleGeography, há cerca de 570 cabos de fibra óptica que, nos oceanos, conectam todos os continentes, com exceção da Antártica.

No dia 28 de fevereiro, um cabo submarino na região do Mar Vermelho, que conecta a Europa à Índia, e estava danificado, agora encontra-se sem perspectiva de conserto, visto que os reparos subaquáticos terão de ser feitos na região que está na mira dos Houthis. Já no dia 26 de fevereiro, quatro cabos de dados foram danificados pelos Houthis, afetando as telecomunicações entre Europa, África e Ásia.

Para o Contra-Almirante Guilherme Mattos de Abreu, membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e colaborador do Centro de Estudos Políticos-Estratégicos da Marinha, as ações dos Houthis no Mar Vermelho são ameaças com “nova configuração, em face de os agentes envolvidos utilizarem meios sofisticados como sensores, helicópteros, mísseis e drones”.

“Assim, contrastam significativamente com o modus operandi dos esquálidos piratas somalis. Esta nova configuração da ameaça traz dificuldades adicionais para o seu enfrentamento, que é muito custoso e complexo, demandando um nível de prontidão extenuante para as unidades envolvidas, dado o curto tempo necessário de reação”, afirma. (O texto é da Agência Marinha Brasileira)

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