Os votos em trânsito colocados em urnas especiais na capital federal por 95 mil eleitores seguiam lacrados para os estados
Por Sérgio Botelho – DF
A última vez que os eleitores de Brasília haviam ido às urnas fora em 3 de outubro de 1960, quando, por maioria de votos, ajudaram a eleger Jânio Quadros à Presidência da República. 18 anos depois, na eleição de 1978, a Nação continuava proibida de votar para presidente da República, assim como para governador nos estados e prefeitos de capitais, por determinação da ditadura instalada no país em 1964.
O general Geisel presidia o país no pleito de novembro daquele ano, mas o general Figueiredo já havia sido escolhido, pelo colégio eleitoral, para assumir em março de 1979.
Na referida votação, apenas haveria possibilidade de voto para senador, deputado-federal e deputado estadual. Como a capital federal não tinha ainda representação no Congresso nem poder legislativo local, então, a princípio, nada de voto para os do quadradinho.
Contudo, desde 1974 ficou aberta a possibilidade de os residentes em Brasília, uma vez que ainda fossem domiciliados eleitoralmente em seus estados de origem, poderem sufragar candidatos proporcionais, nos seus respectivos domicílios eleitorais, para o Congresso Nacional, afastado o direito de participar das escolhas para as assembleias legislativas estaduais.
Em 1978, para uma população em torno de 1 milhão de habitantes, havia 350 mil eleitores em Brasília, sendo que em torno de 94 mil mantinham domicílio eleitoral nos estados de origem.
Como o título original continuava valendo para os efeitos legais em que eram exigidos, a desmotivação, a preguiça e a saudade colaboravam para que esse pessoal não procedesse a mudança de domicílio.
Quem primeiro optou pelo direito de votar na capital federal havia sido Juscelino Kubitschek, logo após fundada a nova cidade. Já em 1963, cerca de 44 mil eleitores brasilienses votaram enquanto tais para escolha entre manutenção do parlamentarismo vigente desde 8 de setembro de 1961, no Brasil, ou retorno ao sistema presidencialista.
Voltando ao pleito de 1978, no total de eleitores com domicílio eleitoral fora de Brasília, havia gente de todos os estados da Federação. Os estados com maior número eram Rio de Janeiro (21 mil), Minas (13 mil) e Ceará (11 mil). De São Paulo, curiosamente, apenas 5 mil. Em função da importância do número de eleitores, candidatos nos estados estabeleceram campanhas em Brasília.
Utilizaram-se da grande arma de então, os catálogos telefônicos, com endereço de todos os assinantes. A propaganda ia para todo mundo, não tinha jeito. Lembrando que não havia possibilidade de campanha por televisão, rádio, jornais e comícios.
Não há qualquer possibilidade de saber como o eleitor brasiliense se posicionou frente à disputa partidária daquele período final dos anos 1970, já que não existe estudo a respeito pelo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal.
Afinal, os votos em trânsito colocados em urnas especiais na capital federal seguiam lacrados para os estados onde eram apurados, não havendo nenhuma consolidação da tendência do eleitoral brasiliense de então. Foi assim.
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