Filme que concorre em Cannes mostra massacre no Chile

Filme Os colonos Chile Misto Brasil
Cena do filme que retrata uma trista história de genocídio no Chile/Divulgação
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O comando da morte massacra os nativos do povo dos selk’nam, nômades de estatura elevada que vivem da caça

Por Misto Brasil – DF

O filme “Os colonos” é um tipo especial de western, baseado em fatos reais: em 1893, um militar britânico, um mercenário americano e um mestiço chileno partem para uma expedição à Terra do Fogo. Seu contratador, o latifundiário Menéndez, os encarregou de “proteger” suas imensas propriedades.

Isso significa: eliminar com violência a população indígena local. Em seu longa-metragem de estreia, selecionado para o Festival de Cannes, o cineasta chileno Felipe Gálvez Haberle denuncia um capítulo brutal da história da América do Sul, que soa lamentavelmente atual.

O comando da morte massacra os nativos do povo dos selk’nam, nômades de estatura elevada que vivem da caça – inclusive das ovelhas dos colonizadores. Tiros, morte e desgraça, tendo como pano de fundo o impressionante cenário montanhoso do sul da Patagônia: um genocídio que passou quase despercebido pela comunidade mundial.

Haberle torna a violência visível, revelando assim um dos capítulos mais sombrios da história do Chile. “É um filme que fala do passado, mas que chega até o presente e reflete sobre coisas que acontecem hoje”, descreveu o diretor em entrevista ao canal de TV alemão ARD.

“Os colonos” dá a impressão de ser um faroeste, mas não é. Pois quem diz que a aquisição de terras para a civilização autoriza que se destrua com violência a ordem selvagem originária?

“O cinema do século 20 foi um cúmplice ativo do processo de colonização da América”, acusa Haberle. “O western era um gênero de propaganda, que justificava a carnificina das populações indígenas”: ao transformar o assassínio em diversão e apresentar os nativos como vilões, “era um cinema extremamente racista”.

O início do fim

Os primeiros europeus chegaram à região na ponta sul do continente americano em 1520, com a expedição de volta ao mundo do português Fernão de Magalhães. Ao avistarem a fumaça de numerosas fogueiras, apelidaram o arquipélago Terra do Fogo.

Porém, a colonização só começaria em 1850, quando desembarcaram na Isla Grande os primeiros imigrantes da Argentina, Chile e da Europa. Criadores de ovelhas, caçadores de ouro, missionários, além de doenças desconhecidas, praticamente dizimaram a população local.

Supõe-se que os indígenas chegaram à Patagônia e à Terra do Fogo há cerca de 10 mil anos. Assim como outros quatro povos, os selk’nam enfrentaram as condições inóspitas do labirinto insular, com seu clima polar combinando sol abrasador e frio antártico, e atravessavam em pequenos grupos a paisagem árida, entrecortada por riachos.

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