Dada a dimensão continental do Brasil, os esforços de agora podem representar apenas uma gota no oceano
Por André César – SP
Não há como esconder. O Distrito Federal enfrenta uma crise sem precedentes na saúde pública, com uma verdadeira explosão dos casos de Dengue na região. O quadro é assustador e as autoridades serão duramente testadas nas próximas semanas.
Um quadro que remete aos tristes tempos de pandemia da Covid-19.
Aos fatos. No dia em que a Aeronáutica iniciou o atendimento ao público no hospital de campanha montado em Ceilândia, cidade localizada no entorno, o Distrito Federal alcançou uma marca gravíssima com a doença.
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O anúncio foi feito pelo próprio governador, Ibaneis Rocha (MDB), em tom alarmante. “Nós já tivemos aqui no DF mais de 46 mil casos registrados e já estamos com mais de dez mortes confirmadas.
Então, o momento é de emergência e realmente pedimos apoio de toda a população”, anunciou o governador. O governo distrital reforçou a assistência médica nas unidades de saúde e o serviço de limpeza pública. Será o suficiente para conter a onda?
Em paralelo, e reforçando a percepção quanto à gravidade da situação, o presidente Lula da Silva (PT) recebeu o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, para discutir medidas de combate a doenças que afetam as populações mais carentes.
É evidente que a atual escalada da dengue teve destaque na conversa, que contou com a participação da ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Como se sabe, está em curso um programa de distribuição de vacinas contra a dengue em centenas de municípios do país. Dada a dimensão continental do Brasil e a existência de uma população de mais de 200 milhões de habitantes, os esforços de agora podem representar apenas uma gota no oceano. É pouco.
Importante ressaltar aqui que a nova escalada da dengue, não somente no Distrito Federal mas em diversos estados, não representa uma novidade. Pelo contrário, trata-se de um quadro que se repete a cada ano, especialmente nos verões quentes e úmidos. Situação perfeita para a disseminação da doença.
A impressão que se tem é a de que os governos, todos eles, trabalham à base do improviso. Faltam projetos efetivamente consistentes para enfrentar o problema – e não falamos aqui apenas da dengue, mas de outras doenças, como a malária.
Pior, temos centros de excelência, como a Fiocruz e o Instituto Butantã, referências mundiais. Pesquisa e material humano não faltam.
Enfim, assiste-se a um novo capítulo de uma velha história, sempre com consequências trágicas para a população. A crônica de mais uma tragédia anunciada não pode se repetir eternamente.