Tudo na cidade incomodava os ministros, principalmente a precariedade das instalações e, sobretudo, do sistema de comunicação
Por Sérgio Botelho – PB
Os primeiros dias de funcionamento de Brasília, após a inauguração da cidade, em 21 de abril, foram fartos de confusão gerencial.
Embora os ministros tenham participado dos atos festivos de inauguração da nova cidade, muitos deles mantinham um pé na nova capital e outro na antiga, o Rio de Janeiro.
Uma ativa ponte aérea, inaugurada pela Força Aérea Brasileira em 25 de abril de 1960, levava e trazia representantes do altíssimo escalão da República do Litoral ao Sertão e vice-versa.
Tudo na cidade incomodava os ministros, principalmente a precariedade das instalações e, sobretudo, do sistema de comunicação. A telefonia, então, só vivia pifando.
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O jeito era recorrer à comunicação por microondas, uma tecnologia que permite a transmissão rápida e direcional de informações por longas distâncias, utilizando ondas de rádio de alta frequência, mas sujeita à interferência de estruturas físicas e fenômenos atmosféricos, como chuva e nevoeiro, que podem atenuar ou distorcer o sinal.
Lembrando que também era comum as interrupções no fornecimento de energia elétrica, da qual quase tudo dependia. Outros ministros se queixavam da poeira comum na região, sobretudo em Brasília onde havia extensos espaços sem utilização, ainda.
O jornal Estado de São Paulo registra, nesse particular, em sua edição de 26 de abril de 1960, o seguinte comentário, feito no dia anterior, uma segunda-feira, do então ministro da Viação e Obras Públicas, o fluminense Amaral Peixoto: “Quarta-feira deverei retornar ao Rio. Barbaridade, só poeira!”.
O presidente Juscelino, bem acomodado e despachando direto do Palácio da Alvorada, é que não arredava pé da cidade. Afinal de contas, era a realização de sua vida.
Inclusive contando com a boa impressão causada pela cidade a gente importante do exterior, como foi o caso do diretor de cinema italiano Frank Capra, muito festejado à época, a ostentar três óscares de melhor direção.
De retorno ao Rio após participar da inauguração de Brasília, Capra chamou a nova capital de “proeza espantosa”.
Foi naqueles dias iniciais, mais precisamente em 25 de abril de 1960, que o então presidente da Academia Brasileira de Letras, o lendário Austregésilo de Athaide, rebatendo informações de acadêmicos, declarou em alto e bom som que a ABL permaneceria no Rio de Janeiro.
E lá permaneceu, até hoje.
(Sérgio Botelho é jornalista na Paraíba. Foi assessor parlamentar no Senado Federal)