Ponto limpo, mas sem reciclagem

Ponta da Areia São Luís Misto Brasil
Detakhe da Ponta da Areia, bairro nobre da área moderna de São Luís/Arquivo

Quando a prefeitura cria um programa que recolhe lixo para eliminar focos de descarte, ela deseduca o cidadão

Por Mayalu Félix – MA

No meu último texto, falei daquilo que é sem realmente ser. Moro em São Luís do Maranhão e me chamam a atenção alguns programas cosméticos do prefeito da cidade.

São programas para inglês ver, como se costuma dizer no jargão popular: trânsito livre sem ciclovias, passarelas para pedestres, acessibilidade para cadeirantes nem pistas exclusivas para ônibus, por exemplo.

Desta vez, vou falar dos “pontos limpos”, outro programa do prefeito Eduardo Braide. Pontos limpos são intervenções em lugares públicos onde antes se jogava lixo.

A prefeitura retira o lixo descartado irregularmente e no local coloca uma plaquinha onde se lê “Ponto Limpo”. Às vezes, planta um pequeno jardim, constrói uma praça.

Segundo o site da prefeitura, “o objetivo desse serviço oferecido pela prefeitura é eliminar focos de descarte irregular de resíduos na cidade, evitando o aparecimento de insetos e roedores e as consequentes doenças, além de melhorar o aspecto do local, proporcionando melhor qualidade de vida para as pessoas e garantindo a saúde pública.”

Certo. A administração anterior, que muito critiquei, implantou os Ecopontos, em 2016. Não é nada confortável, para mim, dizer isso, mas eu seria desonesta se não dissesse.

O prefeito anterior, Edivaldo Holanda Júnior, não apenas implantou os Ecopontos como incentivou a reciclagem, coisa que o atual prefeito não faz, muito pelo contrário.

Quando a prefeitura cria um programa que recolhe lixo para “eliminar focos de descarte irregular de resíduos”, ela deseduca o cidadão, que deveria compreender que o descarte de lixo irregular é crime ambiental e quem faz isso pode responder por crime de maior potencial ofensivo, segundo o art. 54 da Lei de Crimes Ambientais n° 9605/1998. Aliás, seus autores podem ser presos e autuados em flagrante. Mas, como sempre, aqui na Ilha não há fiscalização, e agora não há nem mesmo educação ambiental.

Vale dizer que o aplicativo EcoVantagens São Luís, criado para estimular a reciclagem – eu tinha esse app no meu celular – não existe mais. O app era um clube de vantagens que funcionava oferecendo benefícios mediante a troca de resíduos por pontos, que eram transformados em incentivos nas empresas parceiras ou doações para instituições filantrópicas.

Eduardo Braide escolheu desestimular completamente esse tipo de ação, acabando com as campanhas educativas que levavam o cidadão a reciclar o lixo, usar os ecopontos e beneficiar as cooperativas de reciclagem, ajudando os catadores de lixo.

O lixo que não é reciclado, agora, além de entupir os bueiros e criar o caos (na cidade do trânsito livre) na época das chuvas, é prensado e vai para o aterro em Rosário. Também oferece a oportunidade de o prefeito limpar o terreno e criar um Ponto Limpo.

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