Nesse momento as substituições já estão ocorrendo em tarefas que são automatizadas, quase sempre por causa de sua simplicidade
Por Charles Machado – SC
Na lógica da economia da desatenção, onde os nossos dados, o controle e o uso desses mesmos dados, são utilizados, devidamente trabalhados e refinados, com o mercantil propósito de consumir nosso tempo e a nossa atenção poucas frases são tão perigosas quanto: “para melhorar a experiência do usuário”.
Preste atenção, quase toda invasão nas nossas vidas realizada pelas empresas de tecnologia, são sempre antecedidas por essa dilacerante frase comum, “para melhorar a experiência do usuário”.
Quando você ler essa frase tenha certeza, eles vão ampliar a captura dos seus dados, na observação e registro dos seus hábitos, para melhorar a oferta de produtos e serviços dos patrocinadores e parceiros comerciais.
Os seus dados o design evoluem para ampliar seu tempo e sua atenção no maniqueísmo comercial que engole segundos, minutos e horas das nossas vidas, no típico criar a atenção para desenvolver a desatenção.
Em seu último livro, intitulado Ameaças Sociais da Revolução Digital, Roberto Velasco se concentra em uma “sociedade policiada que pode colocar em risco a própria democracia”. Par o economista, questionamos pouco esse “desenvolvimento”.
O melhor exemplo é a inteligência artificial, onde muitos se dividem entre ela ser uma ameaça ou uma oportunidade? Esquecendo que ambos podem ocorrer ao mesmo tempo.
E como evoluir se a tecnologia não é neutra? Pois ela sempre vai trazer o conteúdo ideológico do desenvolvedor e dos seus acionistas, onde na maioria das vezes o propósito comercial atropela nossa livre escolha?
Como fazer com que as empresas entendam, que na era do uso dos dados a ética será o divisor de águas, a transparência na captura e o uso desses dados de forma ética serão o grande agregador de valor do negócio na lógica de uma nova sociedade, plural, transparente e responsável?
Lembro que para gente como o cientista Stephen Hawking e empresários conhecidos como Bill Gates e Elon Musk, a inteligência artificial é a maior ameaça aos humanos. E que corremos o risco de chegar o dia em que as máquinas podem se reprogramar, decidir assumir o controle da tecnologia e transformar humanos em escravos.
Nesse momento as substituições já estão ocorrendo em tarefas que são automatizadas, quase sempre por causa de sua simplicidade. É certo que o envolvimento humano continuará sendo uma peça-chave por muito tempo, nem que seja para supervisionar qualquer trabalho com inteligência artificial.
Hoje nossa sociedade hoje está inundada de dados. Apenas no ano passado, mais informações foram produzidas do que as geradas desde o início da civilização humana.
Há 30 anos, grandes recursos de computação não estavam disponíveis e não era possível armazenar grandes volumes de dados a baixo custo. A partir de 2010, o custo de armazenamento de informações caiu para um milésimo e o da computação para centésimo.
Agora é possível armazenar quantidades gigantescas de informações das impressões digitais eletrônicas de bilhões de pessoas que dão seus dados todos os dias gratuitamente, seja enviando uma foto para o Instagram, comprando com um cartão de crédito ou viajando no Metrô com um cartão magnético.
Fica evidente que na “sociedade vigiada”, os donos de algoritmos e exploradores de big data sabem tudo sobre nós. Existem algoritmos que são usados para fins criminosos e seus proprietários impuseram um modelo de negócio que gira em torno do que agora chamamos de capitalismo de vigilância, que não tem uma única nuance democrática.
É um capitalismo digital que tenta nos fisgar sempre em dispositivos para monitorar e controlar nossas vidas e nos conhecer bem. Então, apoiados pelos avanços da neurociência e da psicologia, eles passam a desarmar a capacidade de raciocinar para acessar nosso ser mais emocional para nos vender qualquer tipo de serviço ou discurso ideológico.
As redes sociais e os criadores de conteúdo
Curiosamente, com a inteligência artificial, talvez o maior paradoxo do nosso tempo seja experimentado: quanto mais tecnologias sofisticadas que o integram avançam, mais inseguro é o mundo em que vivemos, tanto no ciberespaço quanto no nível do solo.
Segundo Xabier Mitxelena, um grande especialista na área, estima-se que o cibercrime poderia ganhar mais de três trilhões de euros em 2021, o equivalente a três vezes o PIB do Brasil.
As redes sociais, evoluem seus formatos, na permanente lógica da retenção da nossa atenção, pouco importando se todo esse barulho gere mais desatenção.
Mark Zuckerberg, fez você ver mais vídeos curtos nos últimos dois anos, no Facebook e Instagram, conhecidos como Reels. Pequenas doses audiovisuais para não se desligar da plataforma, ficando a cada dia mais parecido com o chinês TikTok.
Para Zuckerberg, o grande alvo são os jovens adultos, uma faixa etária que vai desde a chegada à universidade até o final dos anos trinta e ao qual Meta tenta assim lhe hipnotizar com pequenos vídeos algoritmicamente escolhidos de acordo com os gostos do usuário.
Para explorar essa praia, a ideia é incentivar os “criadores” a enviar vídeos oferecendo mais presença no Instagram e no Facebook, e facilitando sua monetização para “ajudar mais pessoas a descobrir e interagir com os Rolos”.
No Whatsapp, Zuckerberg aspira ocupar seu tempo reforçando as conversas tortuosas de “pais e vizinhos”. Ele quer promover algo como influenciadores da vizinhança. A Meta detectou que os usuários estão cada vez mais interessados em compartilhar conteúdo do Facebook ou Instagram em aplicativos de mensagens, que ele chama de plataformas 1:1.
O objetivo é “ajudar as pessoas no WhatsApp a organizar melhor seus grupos de bate-papo e facilitar que elas encontrem informações nas comunidades das quais fazem parte, como grupos de pais ou bairros”, ou seja mais do seu tempo.
Ao mesmo tempo a batalha pelo atendimento ao cliente é especialmente intensa entre as plataformas de TV por streaming, onde os abandonos são baixos. A visualização (tempo de tela) sobe.” Mais usuários, mais leais e mais selecionados.
Assim a Netflix que nadou sozinha divide com outras plataformas a sua atenção, e logo você paga pela assinatura de diversos canais de streaming, pra sugar ainda mais a sua atenção.
Curioso, a ética, um valor que permeia a história da nossa civilização, permanece como o desafio por todos esses séculos, na construção de novos negócios, que precisam, com o olhar da sociedade, provarem ser eficientes e éticos no uso dos nossos dados.