O eterno tango argentino

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Manifestantes na frente da Casa Rosada, sede da presidência da Argentina/Reprodução/La Nacion

O próximo presidente da Argentina enfrentará dificuldades que, a princípio, parecem impossíveis de serem resolvidas

Por André César – SP

Falar da importância das eleições presidenciais argentinas para o Brasil é chover no molhado. É do conhecimento geral, e tem amplo registro na história, que o que ocorre com os hermanos tem forte impacto por aqui – e vice-versa. No entanto, a disputa atual, a ser decidida no próximo domingo, 19 de novembro, tem suas peculiaridades.

Em primeiro lugar, e também fartamente registrado por observadores, pela imprensa e pela opinião pública em geral, está o perfil dos dois candidatos. De um lado, o ultraliberal e autointitulado “libertário” Javier Milei, com seu estilo fanfarrônico e discurso radicalmente favorável ao desmonte total do Estado. De outro, o peronista Sérgio Massa, atual condutor da combalida economia argentina e tido por muitos como um camaleão pouco confiável, que adapta a personagem ao momento vivido.

O recente debate televisivo deixou claro que, apesar da já conhecida verve, ao ultraliberal faltam experiência e horas de voo na política. Fosse uma luta de boxe, poderia se dizer que Massa colocou-o nas cordas, especialmente após a questão do afastamento do então estagiário Milei do Banco Central por supostas falhas psicotécnicas. A partir daí, pane geral.

Cabe lembrar aqui, porém, que vencer o debate (em especial o último) é importante, mas não garante o êxito nas urnas. Exemplos disso abundam – Hillary Clinton contra Trump em 2016, ou Cristovam Buarque versus Roriz no Distrito Federal em 1998, são situações que apontam esse fato. Tudo está em aberto na terra de Piazzolla.

O segundo aspecto do pleito ora em curso tem digitais de Brasília. O quadro de polarização da política brasileira entrou em campo em Buenos Aires e adjacências. Um grupo de parlamentares bolsonaristas, Eduardo Bolsonaro (PL/SP) à frente, esteve na capital argentina para declarar apoio a Milei. Por sinal, o perfil do eleitor do ex-presidente brasileiro e do candidato ultraliberal é bastante similar – e deseja abertamente sua vitória sobre o peronismo.

Os bolsonaristas não estão sozinhos nas mobilizações. Desde o final do primeiro turno, marqueteiros ligados ao PT têm colaborado com Massa. Em larga medida, a campanha se parece com a do então candidato Lula em 2022 – resumindo, desconstruir o discurso do adversário.

Independentemente de quem seja o vencedor, o próximo presidente da Argentina enfrentará dificuldades (em especial na economia, mas não só) que, a princípio, parecem impossíveis de serem resolvidas a curto e médio prazos. Para a população daquele país o drama está dado – a rigor, os dois postulantes não reúnem condições de tocar os rumos da nação.

A Argentina vive um tango sem fim.

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