República da Turquia completa um século

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Detalhe da cidade de Ancara, na Turquia/Arquivo/Divulgação
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O líder fundador Mustafa Kemal Atatürk introduziu a separação entre Estado e religião e aboliu o califado

Por Misto Brasil – DF

Os turcos, especialmente os seculares, passaram semanas tentando adivinhar como o governo islâmico-conservador do presidente Recep Tayyip Erdogan comemoraria o centésimo aniversário da fundação da república turca, neste domingo (29).

Até poucos dias atrás, não havia sequer um programa oficial na agenda, e diplomatas estrangeiros se perguntavam se alguém havia recebido um convite. Apenas na última sexta-feira o departamento de comunicação de Erdogan anunciou que haveria uma série de eventos – nos quais a era Erdogan será enfatizada.

Os turcos seculares viram seus temores confirmados: Erdogan está tentando apagar o legado do líder fundador da república turca, Atatürk, para tomar o seu lugar, com o objetivo de criar um culto a Erdogan e fortalecer a ideia de um país islâmico.

O líder fundador Mustafa Kemal Atatürk introduziu uma clara separação entre Estado e religião. Com o princípio do secularismo, ele também aboliu as irmandades religiosas e o califado, razão pela qual os islamitas ainda hoje têm rancor dele.

Erdogan, por outro lado, tem apoiado esses grupos religiosos desde que chegou ao poder, concedendo-lhes privilégios. Ele nunca fala o nome completo do fundador, Mustafa Kemal Atatürk.

Para ele, é sempre “Veterano Mustafa Kemal”. Afinal de contas, “Atatürk” significa “antepassado dos turcos”.

“Ele parece não aceitar isso”, é a crítica generalizada. A vida privada liberal de Atatürk, seus relacionamentos com várias mulheres e seu consumo de álcool também são desprezados nos círculos do partido de Erdogan, o AKP.

Atatürk sonhava com uma república ocidental, moderna e secular. Em poucos anos, ele determinou muitas reformas. Trocou o alfabeto árabe pelo latino, adotou normas inspiradas no Ocidente e introduziu o sufrágio feminino. Até mesmo uma lei sobre chapéus foi criada para garantir que as pessoas deixassem para trás os chapéus religiosos otomanos, como o fez ou o turbante, e se vestissem como em Londres, Berlim e Paris.

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Erdogan é o atual líder da República da Turquia/Arquivo

Outra meta de longo prazo era forjar uma nação turca a partir das ruínas do Império Otomano multiétnico, o que se concretizou de forma limitada. Ainda há grandes disputas com algumas de suas minorias, como os armênios, alevitas e curdos. Somente o conflito armado com o Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que é considerado ilegal, já deixou quase 40 mil mortos desde 1984.

Após a fundação da república, há cem anos, Atatürk iniciou uma política externa pacífica. De acordo com o cientista político Cevik, seu objetivo era proteger a ainda jovem república de crises internacionais. A Turquia permaneceu fiel a essa trajetória, com exceção do conflito sobre a ilha mediterrânea greco-turca de Chipre, em meados da década de 1970.

Erdogan também evitou conflitos na política externa durante seus primeiros anos no governo. Somente durante os movimentos revolucionários da chamada Primavera Árabe ele aceitou confrontar o mundo árabe e ficou do lado dos insurgentes. Mas, mesmo assim, sua política externa foi pacífica.

No entanto, há alguns anos, um tom agressivo tem prevalecido, e a militarização tem aumentado. O motivo é que o soft power de Ancara tem perdido peso, de modo que Erdogan vê a força militar como o único meio para aumentar sua influência. (Texto da DW)

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