Sergio Massa e Javier Milei irão disputar o segundo turno das eleições presidenciais da Argentina no dia 19 de novembro
Por Misto Brasil – DF
O candidato peronista Sergio Massa e o ultra direitista Javier Milei venceram neste domingo (22) o primeiro turno das eleições presidenciais argentinas.
Os dois candidatos irão disputar o segundo turno no dia 19 de novembro. A posse do presidente eleito está marcada para o dia 10 de dezembro.
Leia – peronista lidera eleiçào presidencial na Argentina
Com 94% dos votos apurados (relatório parcial das 22h53), Massa recebeu 9.214.401 votos. E Milei, 7.613.561 votos, de acordo com o infográfico do diário argentino Clarin.
A direitista Patricia Bullrich afundou nas eleições mais incertas dos últimos 40 anos, nas quais 25,9 milhões de pessoas (74%), foram às urnas para eleger o sucessor de Alberto Fernández após uma campanha oprimido pela crise econômica e marcado pela ascensão da extrema direita, registrou o El Pais.
A participação do eleitorado caiu sete pontos em relação às eleições presidenciais de 2019. Os argentinos também elegeram deputados, senadores e parlamentares do Mercosul. Veja quem são os dois candidatos no levamtamento da Agência DW.
Sergio Massa
Massa é o principal candidato do peronismo neste pleito, sendo uma figura mais de centro do movimento. Iniciado por Juan Domingo Perón nos anos 1940, o peronismo um dos principais movimentos políticos ou formas de organização política do país há décadas, e já foi descrito como um “Frankenstein” por abarcar correntes extremamente distintas, abrigando tanto esquerdistas quanto neoliberais.
A própria carreira política de Massa, de 51 anos, é cheia de reviravoltas quanto o peronismo. Inicialmente, esse filho de imigrantes italianos foi afiliado a grupos políticos peronistas conservadores na era Carlos Menem (1989-1999). Depois, ligou-se ao grupo do centrista Eduardo Duhalde (2002-2003) e finalmente ao casal Kirchner (2003-2015), dois populistas mais à esquerda do peronismo.
Ex-prefeito de Tigre, na grande Buenos Aires, Massa chegou a ocupar o posto de chefe de Gabinete de Cristina. No entanto, posteriormente rompeu com a política no início dos anos 2010, passando a denunciá-la publicamente e formando um grupo político rival. Em 2015, concorreu à Presidência tendo Mauricio Macri e um candidato apoiado por Cristina como adversários. Acabou em terceiro na disputa. Como deputado, presidiu a Câmara argentina entre 2019 e 2022.
Em 2019, selou uma reconciliação com o kirchnerismo. Mas, apesar de ser o candidato da corrente de esquerda kirchnerista no pleito de 2023, Massa continua sendo um estranho nesse ninho. Em 2022, com a economia indo para o abismo, o então deputado Massa foi convocado pelo atual presidente Alberto Fernández para assumir a pasta da Economia, substituindo Silvina Batakis, que era mais diretamente ligada a Cristina Kirchner. Fernández ainda fundiu outros dois ministérios, cujas áreas também passaram a ser chefiadas por Massa.
Com Fernández desistindo de concorrer à reeleição, Massa se lançou como pré-candidato à Presidência nas primárias da União Pela Pátria, principal agrupamento de peronistas da Argentina. Ele assegurou a candidatura ao derrotar Juan Grabois, da esquerda peronista.
Nas últimas semanas, Massa, apesar de ter sua imagem associada ao impopular Fernández, tem reagido nas pesquisas eleitorais, chegando a aparecer em primeiro lugar em alguns levantamentos. No entanto, pesam contra ele a atual má situação econômica. O ministro tem argumentado que o momento é de transição, e que medidas recentemente adotadas ainda vão render frutos. “O pior passou, o melhor está por vir”, disse nesta semana.
Javier Millei
Pré-candidato mais votado nas primárias, Milei, do partido personalista A Liberdade Avança, fundado por ele mesmo, é um economista com pouca experiência política, que faz uso de um discurso antissistema e é adepto de teorias conspiratórias.
Com 52 anos, ele foi regularmente comparado durante a campanha a Donald Trump e Jair Bolsonaro, políticos de ultradireita que viraram o mundo político do avesso em seus países.
Milei de fato tem pontos em comum com Trump e Bolsonaro. Desde que despontou no cenário político, ele se destacou pelo uso de uma retórica agressiva e provocativa contra a classe política e especialmente a esquerda, tentando se apresentar como outsider. Sua ascensão nas pesquisas causou preocupação em países vizinhos, como o Brasil, e se deve em parte ao eleitorado mais jovem da Argentina, que se sentiu atraído por sua agenda antissistema e que se sente farto de décadas de má administração. Suas aparições de campanha foram marcadas por gestos teatrais, como empunhar uma motosserra e puxar coros de xingamentos contra adversários. Nas primárias de agosto, ele foi o candidato mais votado.
Milei defende o porte de armas de fogo, é contra o aborto e a educação sexual nas escolas e considera as mudanças climáticas “uma farsa”. Ele também se associou com apologistas da última ditadura do país. A candidata à vice dele é a Victoria Villarruel, que tem histórico de questionar os sangrentos crimes cometidos pelos militares. Mais recentemente, tal como Trump e Bolsonaro, ele também passou a denunciar sem provas que o pleito corre o risco de ser “fraudado”.
Mas o Milei é exótico até para padrões da ultradireita mundial. Um biógrafo apontou que Milei se “aconselha” politicamente com espírito de um de seus cachorros falecidos, com intermédio de uma médium.
Ele também já defendeu que os argentinos deveriam ter permissão para vender seus órgãos e quer a extinção do Banco Central da Argentina e diversos ministérios. Após as primárias, ele classificou a ideia de “Justiça Social” como uma “aberração”.
A principal proposta dele é adotar um regime de dolarização agressivo, efetivamente extinguindo o peso argentino e adotando a moeda americana no país. E deixando o Estado minúsculo. Pessoalmente, ele se define como “libertário” e “anarcocapitalista”.
Mas o autoproclamado libertarianismo de Milei é apontado por críticos como uma mera roupagem para esconder uma natureza de extrema direita.
Ainda assim, durante a campanha, Milei tomou o lugar de principal recipiente dos votos de protesto ou oposição contra o atual governo. Boa parte do debate político na Argentina também foi pautado nos últimos meses pelas ideias radicais de Milei, sobrando pouco espaço para propostas de outros candidatos.
Governador de Buenos Aires vence na capital
O governador da província de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof, comemora sua vitória no bairro mais populoso do país: “Nem a resignação nem a antipolítica nos derrotaram”.
“Quero agradecer ao povo de Buenos Aires, independentemente de terem votado”, disse ele no centro de campanha peronista na capital.
A província de Buenos Aires, onde vivem 38% dos argentinos e onde votam 37% dos eleitores, continuará a ser governada por Kicillof, que venceu com 45% dos votos na contagem provisória.