Celulares e volante, uma combinação mortal

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A situação da economia mundial tem influenciado no humor do brasileiro/Arquivo

Se os acidentes são na maioria das vezes causados pela desatenção, como esperar quando utilizamos um aparelho que reduz em 50% nossa visão?

Por Charles Machado – SC

Magnetizados por nossas telas de celular, perdemos a noção de tempo, de espaço, de conveniência e apreço por tudo ou quase tudo que nos cerca.

O melhor exemplo de uma total, falta de empatia para com o próximo desfila diariamente nas ruas e avenidas das nossas cidades, onde sem se importar com o tempo, a segurança e a vida dos outros diariamente milhões de motoristas trafegam, recebendo mensagens, curtindo redes sociais e distribuindo “kkk” nos seus grupos, em total desprezo pelo próximo.

Quantas vezes por dia, você esbarra em alguém que perdeu seus olhos no celular, numa desatenção cada vez mais comum? Quantas vezes em restaurantes as pessoas se perdem em suas telas e esquecem da comida ou até mesmo dos amigos e familiares envolvidos em atrativas telas que parecem ter a última notícia do mundo a qual sua vida parece depender dela?

Esse ato além de aborrecimento, pode ser fatal quando o mesmo ocorre no trânsito.

No Brasil morrem por hora 5 pessoas vítimas de acidente de trânsito, o que faz dos acidentes antes da pandemia, a segunda maior causa de mortes no Brasil, sendo que desses acidentes, 1/3 deles vem sendo provocados pela distração dos condutores ao celular, logo, no Brasil temos mais de 40 pessoas que perdem suas vidas por dia devido aquela olhada na tela do celular. Se considerarmos que a metodologia de mortes por acidente considera apenas quem faleceu no local ou em até 48 horas, podemos crer que o número de vítimas fatais, ou não, é muito maior.

Afinal, se acidentes são na maioria das vezes causados pela desatenção, como esperar algo diferente quando utilizamos um aparelho que reduz em 50% nossa visão? Imagine as consequências do uso cada dia maior desse “ladrão de atenção”.

Veja o que ocorre conosco, com seus filhos e seus amigos ao andar, seja no carro ou dentro próprios lares, feitos zumbis magnetizados pelas telas. Olhe seus filhos andando pela casa com os olhos fixos nas telas e tente imaginar se é diferente nos outros lugares como rua, pátios de escola e em breve ao volante.

O permanente hábito criou uma relação quase que orgânica entre nós e esses dispositivos, que a cada dia, tristemente, parece ser a extensão dos nossos corpos e assim, eles invadem todos os ambientes da casa ao trabalho e caminham velozmente para se transformar em um problema de saúde pública.

Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), o hábito de usar o celular ao volante multiplica por quatro os riscos de acidente, pois diminui os tempos de reação (principalmente o da frenagem, mas também a reação aos sinais de trânsito) e dificulta que o condutor mantenha o carro na pista correta e guarde as distâncias de segurança, conclui o estudo da OMS.

Motorista resolveu ver a piada que recebeu no WhatsApp

O uso do aparelho pelos motoristas tornou-se a terceira maior causa de acidentes de trânsito com mortes no Brasil, de acordo com levantamento da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), só perdendo para o excesso de velocidade e a embriaguez.

Os péssimos hábitos de ficarmos grudados nas telas em nossos ambientes de trabalho e em casa, são trazidos para dentro dos carros e pasmem para as motocicletas, logo, um dos erros mais comuns é imaginar que tudo bem mexer com o celular enquanto o carro está parado no semáforo, mas isso também pode gerar multa.

Tente lembrar quantas vezes ao dia o sinal abre e o veículo da frente não se desloca, pois o motorista resolveu ver a piada recebida no seu grupo de Whatsapp? Sem dar a mínima para o tempo e a segurança de todos, naquela prova de que não está nem aí para coletividade.

Ou preste atenção naquele veículo lento na pista da esquerda, que além de posicionado no lugar errado quase sempre tem um desatento motorista lendo ou respondendo mensagens.
Veja aquele carro que ao dirigir parece ter o direito de ocupar duas pistas e olhe para ele pra ver se não é mais um motorista embriagado pelas telas do celular?

Apenas no ano passado foram emitidas quase 2,1 milhões de Notificações de Penalidade decorrentes de infrações por uso de celular por motoristas, de acordo com as estatísticas do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o que é uma ínfima fração se considerarmos o que vemos ao olhar para o carro ao lado. No geral, as notificações são efetuadas nos casos de teclar, segurar o telefone com uma das mãos e usar fones de ouvido.

Segundo um estudo realizado pelas psicólogas Ana Cristina Santos e Adaucilene Amorin, autoras de um trabalho sobre as alterações na percepção e atenção do condutor, “Mesmo que o motorista tenha as mãos livres, o foco direcional muda”, nesse estudo as autoras ainda abordam que numa conversa usando-se o viva-voz o condutor compromete os reflexos, ficando-o mais lento para a tomada de decisões. “Ao dirigir, o indivíduo aprende olhar de forma instintiva e contínua para os lados.

Porém, com a utilização do celular, a tendência do motorista é fixar o olhar à frente do volante e isso interfere na visão periférica e limita a varredura do campo perceptivo do condutor, o que é fundamental”, completa o estudo.

É de se lembrar que o uso do celular ao volante não é um perigo somente para os motoristas. Os pedestres também são vítimas constantes de atropelamentos originados pela distração do condutor e seu smartphone por motoristas que não conseguem ver pedestres na faixa de segurança ou ciclistas andando próximos.

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos, mostrou que a combinação celular e trânsito pode aumentar em até 400% o risco de acidentes. Ao desviar o olhar para ler uma mensagem, por exemplo, o condutor perde cerca de cinco segundos de atenção. Se ele estiver a 80 km/h, é como se percorresse um campo de futebol inteiro sem ver o que está acontecendo do lado de fora.

E punir apenas pecuniariamente resolve? Bem, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, dirigir o veículo usando fones nos ouvidos conectados a aparelhagem sonora ou com telefone celular é considerado infração de trânsito gravíssima e o condutor está sujeito a perder onze pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 424; sendo R$ 293,47 por tirar uma das mãos do volante para usar o celular no carro e R$ 130,16 por usar o telefone, ainda que não esteja segurando-o e usando um fone de ouvido.

Acidentes tendo o celular como causa, não são apenas um “privilégio brasileiro”, segundo um novo estudo do National Safety Council dos Estados Unidos, 25% de todos os acidentes de carro registrados no país são causados porque os motoristas estão falando no celular ou enviando mensagens de texto.

Autoridades e principalmente fabricantes tem uma parcela considerável de culpa nisso e podem com ajustes aos dispositivos reduzir o uso e poupar vidas. Dispositivos que vinculassem ao menos algumas funções que fossem capazes de reduzir esses assustadores números. Nenhum tem o direito de incluir as pessoas no seu entorno, para participar de uma roleta russa da sua desatenção, para a qual elas não foram voluntárias.

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