As mudanças no clima, segundo os especialistas, têm sido um fator determinante para que essa temporada do fogo pareça diferente
Por Misto Brasília – DF
Os cientistas do Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) notaram que o El Niño atrasou o começo da temporada do fogo no Cerrado. Nos próximos meses, na medida em que as temperaturas aumentarem em estados do Centro-Oeste e do Sudeste, os riscos de incêndios podem se tornar mais preocupantes.
Apesar do número de focos de calor estar dentro do esperado, o riscos de incêndios foram menores que o habitual para o Cerrado no início do inverno. A estação coincide com o ápice do período de seca e com o consequente aumento de ocorrências de grandes incêndios florestais na região central do Brasil.
Com o aumento da temperatura em diversos estados do Cerrado, verificado desde as últimas duas semanas, a situação pode mudar drasticamente nos próximos meses.
As mudanças no clima, segundo os especialistas, têm sido um fator determinante para que essa temporada do fogo pareça diferente. Para as regiões Centro-Oeste e Semiárida do Cerrado, são esperadas temperaturas acima da média, aumentando o fator de risco para incêndios tanto na primavera quanto no verão.
“Organizações de meteorologia e de pesquisa nacionais e internacionais indicam mais de 90% de probabilidade de que o fenômeno El Niño se intensifique ainda mais entre setembro e outubro”, aponta o climatologista Argemiro Leite-Filho, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG. “E as diferentes regiões do Cerrado sentirão impactos distintos”.
O provável motivo para o atraso do começo da temporada do fogo no Cerrado, em relação aos anos anteriores, seria o padrão de instabilidade atmosférica resultante da formação do El Niño, que teria provocado chuvas em áreas que, nessa época do ano, experimentariam um clima mais seco. Caracterizado pelo aquecimento natural das águas do Pacífico, o fenômeno tem impacto direto no clima do Cerrado.
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Bahia estão entre os estados com registros de chuvas de 30 a 90 milímetros acima do normal. Com o aumento do volume e a maior frequência de chuvas, várias áreas tiveram a umidade do solo ampliada em até 20 milímetros, em relação à média climatológica para o período de 1991 a 2020, o que ajuda a explicar a redução do espalhamento do fogo nessas áreas desde junho deste ano.
Ainda que o inverno tenha sido marcado por ondas de calor em diversas regiões do Brasil e o mês de julho, o mais quente na história das medições, grande parte do Cerrado também se manteve dentro das variações normais de temperatura, contrastando com as regiões Norte, Sul e parte de Minas Gerais.