Nova rede social que entrou na internet tem como principal objetivo reunir dados e vender produtos aos usuários
Por Charles Machado – SC
Em apenas sete horas, dez milhões de novos usuários entraram na nova rede social de Mark Zuckerberg, o Threads, sem se perguntarem em todo o caso se isso poderia ser mau ou prejudicial para a sua privacidade.
Sem ao menos refletirem sobre o motivo dessa nova rede social não estar disponível na União Europeia. E só vemos um ecrã não clicável com algumas bolas que giram lentamente tentando obter um efeito hipnótico.
No máximo, eles ficarão surpresos por terem assinado, que é claro ninguém ousa ler, e que se agora, depois de tentar, apagarem sua conta Threads, também estarão perdendo automaticamente a sua conta no Instagram.
Só demonstra o desespero do Meta (Facebook, WhatsApp, Instagram e agora Threads) pela sua atenção, seu tempo e seus dados, em fazer crescer uma nova rede social, em enfrentamento a chinesa TikTok e em resposta a diluição da audiência, na lógica da economia da desatenção, onde todos querem à sua atenção, disputando o seu olhar diante das telas e produzindo como resultado, apenas mais desatenção, onde tudo vemos e em quase nada nos fixamos.
Se aproveitando desse momento de fraqueza do Twitter, o Grupo Meta tenta novos nichos. Afinal, as redes sociais viraram isso, todos entramos em todas e poucas são as que de fato concentram a nossa atenção. No fundo resta apenas isso: barulho inaudível e pouco inteligente, onde todos gritam por sua atenção, seja com a foto da janta ou do embarque no aeroporto, até a rotina instagramável das academias.
Obvio que a rede não foi lançada na União Europeia, pois não respeita as regras de proteção de dados.
Usuário entrega dados à nova rede social
Descaradamente se dedica a recolher, literalmente, “dados relacionados com saúde, finanças, compras, contatos, dados de utilização, histórico de navegação e outras informações confidenciais” para os vender, sem qualquer restrição, ao maior lance. Dissimula que o propósito seria melhorar a experiência do usuário.
Que alguém possa pensar, a essa altura, que é uma boa ideia autorizar, a Meta a conhecer seus dados de saúde e tentar vender produtos milagrosos, para o tratamento do câncer entre outros males.
Entrega, assim, seus dados sensíveis para o grupo que historicamente desrespeitou a privacidade do seus dados, só pode ser visto como vítima digital de Estocolmo, onde se apaixonamos, no caso, ao ‘sequestrador dos nossos dados e claro da nossa privacidade”.
Imaginar que uma nova rede social de Zuckerber seja um contraponto ao megalomaníaco Elon Musk, só pode ser visto como ingenuidade.
Uma nova rede social desse grupo saia do papel, é mais uma irrefutável prova de que ainda existem muitos no mundo que não se importam em serem enganados por falsos mitos. Ou gritam que toda oposição é uma perseguição e de que qualquer opinião discordante da sua precisa ser eliminada.
Em resposta a nova empreitada do Meta, Musk respondeu uma série de tweets, que apontavam a quantidade de dados coletados pelo Threads.
“Graças a Deus eles administram sensatamente“, em tom de deboche e ironia, Ele se referia aos comentários do diretor de produtos da Meta, Chris Cox, sobre o desenvolvimento da nova rede social.
Nova estratégia para vender e roubar dados
Cox alegou que a empresa estava ouvindo criadores de conteúdo e figuras públicas ‘interessados em ter uma plataforma que fosse sensatamente administrada.
Ao mesmo tempo Jack Dorseu, criador e ex Ceo do Twitter, comentava que “todos os seus Threads pertencem a nós“, se referindo a Meta. E logo Musk respondeu concordando com a fala do empresário.
São tempos em que precisamos fazer uma distinção entre as coisas que estão sob nosso controle e as que não estão.
De forma simplista, nossos pensamentos e atitudes estão sob nosso controle e todo o resto não, notadamente a imbecilidade, que desfila nos feeds de notícias de nossas redes sociais. Aquele amigo que nunca foi brilhante, teima em acreditar nas mais absurdas insanidades, como a eficácia de um vermífugo para combater um vírus, ou em vídeos que atestam que o presidente dos EUA é um pedófilo. “Santa Inocência Batman.”
A assepsia digital é fundamental na escolha do que ver, silenciar, afastar ou até mesmo excluir do grupo de amigos, uma reflexão necessária capaz de distanciar e decidir sobre aquilo que deve ou não fazer parte do seu dia.
E assim, as redes e o nosso espírito por ter sempre uma fé maior no campo do imaginário e fantasioso, seja pela dureza da realidade ou pela paixão lúdica pela fantasia, tornou a internet um ambiente pouco saudável para verdade, onde nunca se teve tanta informação e de onde brota tanta ignorância.
Tente ver nas notícias que aparecem compartilhadas em suas redes sociais por alguns dos seus amigos.
Você vai ficar impressionado com a fonte, invariavelmente desconhecida, de veículo de comunicação com nomes similares e parecidos aos grandes veículos, e com jornalistas e ou articulistas dos quais você nunca ouviu falar. Afinal, boa parte deles são apenas robôs programados para distribuir conteúdo mentiroso, que cria barulho e desinforma.
Uma nova rede social, no fundo, é mais uma tentativa de sequestrar a sua atenção. Você poderia estar se dedicando a algo mais prazeroso e útil. Mais desatenção, mais barulho e mais dados pra poder vender anúncios certeiros com maior conversão.