Chip da beleza e os riscos na sociedade da desatenção

Chip da Beleza estética Misto Brasília
Chip da beleza virou uma maneira/Arquivo/Unicardio

A promessa é que, com os efeitos androgênicos do hormônio, ocorra emagrecimento, ganho de massa muscular e aumento na disposição física

Por Charles Machado – SC

A perversa lógica dos tempos atuais onde vivemos permanentemente a ditadura das redes sociais, que faz com que uma parcela gigante da sociedade siga novos padrões estéticos, onde a singularidade dos corpos se entrega a generalidade de novos padrões, e logo bocas, faces e corpos ficam muito parecidos, como se estivessem saído de alguma nova série do Netflix.

Se a pandemia acentuou o uso da telemedicina e de outros avanços permitindo o barateamento do atendimento, bem como a ampliação dos serviços. Ao mesmo tempo a ditadura da estética na sociedade da desatenção, onde todos lutam por nossa atenção produzindo apenas mais desatenção, apresenta novos riscos como o famoso “chip da beleza”.



Praticamente do tamanho de um fósforo, o dispositivo de silicone é implantado no corpo com a promessa de ganho de massa muscular e emagrecimento. Esse dispositivo é colocado no corpo, para liberar continuamente hormônios como a gestrinona, esteroide com ações anabolizantes. A promessa é que, com os efeitos androgênicos do hormônio, ocorra emagrecimento, ganho de massa muscular e aumento na disposição física.

Porém é bom destacar, que esse dispositivo, o ‘chip da beleza’, não é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pode gerar efeitos colaterais graves. Apesar das contraindicações de tratamentos subcutâneos com a gestrinona, hormônio cuja aplicação é a mais frequente, os relatos médicos sobre efeitos colaterais envolvendo os ‘chips’ têm crescido, como destacamos em um artigo publicado em 2021.



Desde de 2021 a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) se posicionou contra o implante de gestrinona, com o envio de ofícios à Anvisa e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) demandando atenção para o assunto.

Em um primeiro momento, o dispositivo com gestrinona era injetado no corpo sob a justificativa de tratar a endometriose, distúrbio ligado ao crescimento de tecidos do útero. De uns cinco anos para cá, porém, percebeu-se que o uso do dispositivo para fins estéticos e a combinação com outros tipos de hormônios passou a se intensificar. O nome ‘chip da beleza’ veio no meio desse processo.

 

“Quando se viu, estavam colocando todo tipo de anabolizante nos ‘chips’, principalmente com a justificativa de aumentar massa magra e diminuir massa gorda. Mas não há indicação médica para benefício estético”. Na ditadura da vida eterna e da estética, tudo parece valer, mesmo com grave risco a saúde.

O rastreio e controle digital desses dispositivos, através de um controle por cadastro único, e código de barras em cada item, permitiria aos órgãos de controle, algo fácil de se regular.

Melhor disposição da libido

É a busca pelo corpo, pele e cabelos perfeitos que vem levando mulheres, a recorrerem ao chamado “chip da beleza”, que promete favorecer o ganho de massa muscular e melhorar disposição, libido, pele e cabelos.

Mas o produto também pode ter efeitos adversos, como destacou uma recente reportagem do Jornal Estadão, no caso da cantora e compositora Flay, que teve seu rosto tomado por espinhas e engordou 10 quilos após aderir ao método.



Até o momento o chip continua sem nenhuma regulação da Anvisa, que desde 2021 proibiu qualquer propaganda da gestrinona e de produtos relacionados, alegando que a substância é um “risco à saúde pública”.

“Por se tratar de substância hormonal com possibilidade de causar eventos adversos graves, foi banida de diversos mercados e foi, inclusive, considerada substância de uso proibido para atletas, segundo a Agência Mundial Antidoping”, diz a agência.

Segundo a Anvisa, o uso da gestrinona só é permitido em cápsulas gelatinosas duras para tratamento de endometriose, que podem ser feitas em farmácias de manipulação.



O chip da beleza é colocado sob a pele e libera periodicamente os hormônios que o compõe, em especial a gestrinona, que deu o nome ao chip por conta de seus efeitos anabolizantes, que impactam diretamente a estética. Alguns fabricantes alegam que ele funciona como método anticoncepcional, repositor hormonal para mulheres na menopausa e tratamento para endometriose, colaborando também para diminuir significativamente o fluxo menstrual.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) também contraindica o uso dos chips e diz que “no Brasil, a utilização de implantes hormonais utilizando esteroides sexuais e seus derivados aumenta de forma avassaladora. Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem e de subdosagem.



A Lei 13.021, de 8 de agosto de 2014, conhecida como Lei das Farmácias Magistrais, reconheceu as farmácias como estabelecimentos de saúde e conferiu autonomia técnica aos profissionais farmacêuticos. Por isso, produtos feitos em farmácias de manipulação, como o chip da beleza, não precisam de bula, o que acaba muitas vezes sendo utilizado para burlar os órgãos reguladores.

Um risco que se amplia na perseguição de uma sociedade esteticamente perfeita, na ilusão alimentada pelas redes sociais e a nossa atenção, onde nosso tempo serve para monetizar essas empresas.


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