Reservas de 30 bilhões de barris de petróleo, com potencial de adicionar milhares de barris à produção nacional
Por João Pedro Soares – RJ
Um “passaporte para o futuro”. Foi assim que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, descreveu o potencial da Margem Equatorial, novo alvo exploratório da Petrobras, que se estende das costas do Amapá até o Rio Grande do Norte.
A Margem Equatorial engloba as bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar.
Não por acaso, mas sobretudo por método, as palavras de Silveira foram as mesmas que saíram da boca do presidente, Lula da Silva (PT), em 2009, quando o petista “vendeu” a promessa do pré-sal – sob a lógica do ministro, afinal, a Margem Equatorial é o “novo pré-sal“, como ele disse.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, considera a Margem Equatorial como a maior área exploratória do país depois das descobertas da Bacia de Campos e do pré-sal. Até 2027, a petroleira pretende investir 2,9 bilhões dólares (cerca de R$ 14,6 bilhões) e perfurar 16 poços naquela região, onde detém seis blocos.
O que se espera com a empreitada é repetir o sucesso da ExxonMobil, que já acumula, desde 2015, mais de 30 descobertas no mar territorial da vizinha Guiana, que tem um perfil geológico semelhante.
Em vídeo enviado à imprensa, Prates disse que “com o resultado da fase de investigação e perfuração, a sociedade terá o direito de saber qual é o real potencial dessa área, e a partir daí vamos aprofundar o debate sobre a continuidade ou não do projeto”.
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a Margem Equatorial tem reservas estimadas em 30 bilhões de barris de petróleo, com potencial de adicionar 1.106 milhão de barris/dia à produção nacional a partir de 2029.
Mas, se depender da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, a Petrobras não terá vida fácil.

Ao aventarem a hipótese de exigir uma avaliação ambiental estratégica para licenciar o projeto, a pretensão da estatal em iniciar a perfuração do poço pioneiro Morpho, no litoral do Amapá, a 160 quilômetros da costa e com profundida de 2.800 metros, ficou mais distante.
Até então, ela dependia apenas do aval do Ibama para realizar o simulado técnico pré-operacional, etapa prévia à licença.
“Eu estou olhando para esse desafio do petróleo na Foz do Amazonas do mesmo jeito que olhei para Belo Monte. É altamente impactante, e temos instrumentos para lidar com projetos altamente impactantes, que é o instrumento da avaliação ambiental integrada, da avaliação ambiental estratégica. Não pode ser licenciado como um caso isolado, temos que olhar para a bacia”, afirmou Marina à agência Sumaúma.
Ainda não é possível saber se Marina terá força para bancar a aposta e sair vitoriosa do embate com a Petrobras.
Em 2008, na sua primeira passagem pelo ministério, ela pediu demissão do cargo. Em carta enviada à Lula, alegou que encontrava dificuldades “para dar prosseguimento à agenda ambiental federal”.
Disse, ainda, que o presidente foi “testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade”.
Na ocasião, a pressão vinha do agronegócio, que insistia na revisão das medidas de combate ao desmatamento na Amazônia.
“Enquanto Marina Silva está tentando reestruturar o MMA [Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima], os representantes do ‘mercado’ que integram o MME [Ministério de Minas e Energia] querem acelerar a abertura da Foz do Amazonas“, denunciou Marcelo Laterman, ativista sênior do Greenpeace Brasil.
(João Pedro Soares trabalha na Agência DW)