Jorge Eduardo Naime disse também em depoimento à CPI que o efetivo da PM era muito pequeno no dia 8 de janeiro
De acordo com o ex-comandante de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal, Jorge Eduardo Naime, o Exército protegeu os bolsonaristas após a invasão da sede dos três poderes, no dia 8 de janeiro. O oficial está preso por ordem do Supremo Tribunal Federal.
O Misto Brasília transmitiu ao vivo a audiência da CPI
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Em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, nesta quinta-feira (16), ele relatou que, no momento da prisão dos que voltavam da Esplanada, a PM se deparou com uma “linha de choque montada com blindados e, por interessante que parecesse, eles não estavam voltados para o acampamento. Eles estavam voltados para a PM, protegendo o acampamento”.
Para ele, o acampamento era o “epicentro de todos os atos” golpistas. Essa afirmação é praticamente a mesma do governador Ibaneis Rocha (MDB). Ele afirmou que o acampamento era um “barril de pólvora”.
“O tenente que era o oficial de dia no QG queria impedir que a gente prendesse as pessoas no gramado que fica ao lado da via N1. O argumento foi que o local era uma área do Exército e que a PM não poderia atuar. Presenciei o [interventor Ricardo] Cappelli tentando entrar e o general Dutra não permitindo”, relatou, sobre a tentativa de prisão no acampamento em frente ao QG.
Naime disse que participou de várias reuniões antes dos atos golpistas com o Comando do Exército para a retirada do acampamento, mas que as operações eram canceladas de última hora. Naime disse que chegou a colocar 500 homens à disposição, no dia 29 de dezembro, para retirar o acampamento.
“Houve orientação expressa em dezembro para que não fosse permitida a retirada de pessoas no acampamento no Quartel General do Exército”, frisou.
O coronel, que estava de licença no dia 8 de janeiro, afirmou que o efetivo mobilizado no episódio não seguiu o padrão operacional da PM. Documento da PM apresentado pelo presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), aponta que havia apenas 200 alunos do curso de formação de policiais, e “o restante” de sobreaviso.
“Me causa estranheza ter usado somente os alunos. Realmente eu acho que precisa haver uma revisão nessas escalas e ver se realmente isso aconteceu porque foge completamente do que é o nosso padrão”, afirmou.
Preso na âmbito da 5ª fase da Operação Lesa Pátria, Naime também disse que o esperado seria deixar a tropa de “prontidão” nos quarteis, e não de “sobreaviso”, quando os policias ficam em casa.
No dia da posse presidencial, o efetivo utilizado, ainda segundo o coronel, foi de 2.193 policias.
Naime também afirmou que a única informação que a PM recebeu, em reunião da qual participou o secretário interino de Segurança Pública, Fernando Oliveira, foi a de que “a manifestação daquele final de semana era com ânimos tranquilos e com baixa adesão”.
O ex-comandante relatou que nunca havia visto “tanta facilidade” na invasão dos prédios, ressaltando que faltou resistência mínima nas sedes dos poderes. “Se todo mundo estava sabendo, por que só tinha 16 policiais no Congresso Nacional, de 500?”, questionou.
Ele ressaltou que poderia ter havido mortes se a polícia “não tivesse tido parcimônia” e “não tivesse agido de forma inteligente”.
Ainda segundo o Naime, os terroristas utilizavam técnica de guerrilha e contraguerrilha e a polícia disparou 4 mil tiros de borracha para contê-los. O texto é da Agência CLDF.