Censura ou moderação nas redes sociais. Isso pode?

Redes sociais
As redes sociais passaram a fazer parte da rotina da maioria das pessoas no Planeta/Arquivo

Essas empresas já perceberam que o idealismo, seja ele de direita ou de esquerda é sempre um ótimo fermento

Por Chales Machado – SP

Em tempos de ânimos acirrados e insuflados pelos gritos coletivos de grupos extremados, onde quem fala mais alto acredita piamente ser o dono da razão, estabelecer uma linha de diálogo parece ser uma tarefa ingrata, afinal, quantos estão dispostos a ouvir? Quantos querem abrir mão da sua “ditadura opinativa” resultante dos algoritmos que juntam extremistas das mais diversas cores?
Como encontrar a verdade? Como moderar o conteúdo sem ser taxado de censura? É nesse abelheiro que Elon Musk, um homem que comprovadamente não tem medo de desafios, e que segue a lógica dos resultados financeiros, quer atuar.

Afinal onde reside o dilema fundamental da moderação do conteúdo? Notadamente, no vazio de discussões profundas ofertado pelo cardápio dos debates das redes sociais esse universo corporativo, que tem a sua atenção, o seu tempo e os seus dados como objeto de monetização. Essas empresas já perceberam que o idealismo, seja ele de direita ou de esquerda é sempre um ótimo fermento para faturar, e logo os extremos são o combustível das redes sociais, afinal se o amor pode unir, as redes sociais já provaram que o ódio pode unir muito mais, mesmo que pela cegueira de fanáticos.



Os fundadores do Twitter (bem como das demais redes sociais) sempre se alimentaram nesse atoleiro de insultos, assédio e falsidade seja ele de conteúdo, do propósito ou mesmo do falso autor do conteúdo, e logo em nome da sua atenção, se modificam vozes, imagens, se cortam e editam textos, tudo pra manter acesa a chama da sua raiva, que de forma arrebatadora turva nosso equilíbrio e discernimento, e logo delírio pouco é bobagem.

E o que acontece quando os mecanismos de moderação não funcionam? Bem, basicamente você acaba sendo marcado como um censor, com todos os usuários descontentes em um ambiente insalubre, e com muitas vozes censuradas de fato por medo de insultos e ameaças de tempestades de tweets. É esse o retrato de um Twitter (para ficarmos no desafio de Musk) que chegou a perder muito valor, oportunidades e dinheiro pelo fato de não saber como gerir o controle dos delírios.

O número de pessoas e anunciantes que restringiram ou removeram suas atividades no Twitter devido a temores relacionados à sua causticidade e toxicidade tem sido historicamente muito alto, e tem desempenhado um papel importante na trajetória que culminou em sua aquisição.

Quando Musk chega, muitos interpretam por suas declarações que ele vai transformar o Twitter em um “livre para todos”, em um “tudo vale“, porém ninguém compra uma plataforma para diminuir drasticamente seu valor e perder o seu investimento, muito menos o dono da Tesla e de tantas outras empresas.



Devemos diferenciar aqueles que cometem crimes

Onde estão as chaves para o futuro do Twitter? Acima de tudo, na forma de controlar o link de usuário da conta. Recorrer a uma ideia tão primária como “identificar-se de forma confiável se quiser ter uma conta” não funciona, porque deixa de fora todos aqueles que, por qualquer motivo e em muitos casos muito justificados, precisam agir sob um pseudônimo ou se proteger no anonimato. O anonimato é e deve ser um direito, e uma empresa que permite, mas sabe a identidade de quem está por trás disso tem um problema: em alguns países, o governo pode reivindicar as identidades daqueles que usam contas que acham irritantes, o que já acontece no Brasil.

Aqui, obviamente, devemos diferenciar aqueles que cometem crimes de qualquer tipo e cuja identidade pode, portanto, ser legitimamente reivindicada pela justiça, de outros que devem ser protegidos porque são simplesmente opositores do poder político ou pertencem a grupos perseguidos por razões ideológicas, religiosas ou culturais.



Qual é a melhor maneira de gerenciar identidade e participação? Muito possivelmente, recorrendo ao que pretende se tornar o mecanismo de identificação do chamado Web3: criptografia. Alguns aplicativos já estão começando a oferecer aos seus usuários a possibilidade de se identificarem através de uma carteira: em que nível esse mecanismo se tornaria popular se fosse o Twitter que adotou e ofereceu? Poderíamos contar com um Twitter que, aproveitando o efeito pioneiro, se tornaria uma espécie de “identificador universal” na Web3?

O mesmo pode ser apontado de possibilidades como a incorporação de criptomoedas ou NFTs, e o fato de que o único membro do conselho do Twitter que transferiu sua participação para a nova empresa liderada por Musk é precisamente Jack Dorsey, fundador da Block, Inc. (antiga Square), o que pode dar uma pista da tokenização que está por vir.



A história é repleta de exemplos de facínoras

É evidente que a ausência de moderação favorece o radical, o selvagem, aquele que menos respeita as regras de conduta estabelecidas pela sociedade. O que deve ser excluído? Claramente, o aquilo que transgride as regras básicas de interação social (insultos, ameaças, assédio, etc.), e ameaça a ordem social. A identificação da conta é fundamental, pois remover conteúdo e permitir que os envolvidos reapareçam com outras identidades e mantenham seu comportamento não faz nada além de desacreditar o sistema de moderação. Basicamente, o fundamental é que quem faz isso, paga por isso e não desaparece ou ofende (prestação de contas).

Como seria um Twitter (o mesmo vale para todas as redes sociais) em que certas ações claramente definidas resultariam na perda da conta e na dificuldade em obter outra? E se, em vez de uma plataforma cheia de trolls, ódio, falsidade, ameaças, assédio e padrões ingênuos, tivéssemos um serviço razoavelmente confiável, que responde a padrões de comportamento semelhantes aos que a sociedade considera aceitáveis, e em que nos comportamos de forma cívica, como fazemos em outros fóruns sociais?



A história é repleta de exemplos de facínoras que em nome da liberdade de expressão, pregavam e pregam o preconceito e até mesmo a ditadura, e que ganham ressonância em tempos de redes sociais onde a verdade importa muito pouco aos olhos e ouvidos de fanáticos.

Quem procura verdades nas redes sociais? Quem procura saber o que é real e o que não é por traz das fotos e textos? As redes sociais são o principal espaço da toxidade do mundo moderno, é preciso regular melhor o uso dessa nova nicotina.



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