Metaverso e desigualdades na educação

Realidade virtual escola tecnologia
A realidade virtual se integra à vida escolar e o processo se integra ao metaverso/Arquivo/Aprimoramente

A passos velozes as novas tecnologias serão incorporadas nas salas de aula, e em breve os óculos de realidade virtual

Texto de Charles Machado

A utilização de forma crescente do metaverso nas salas de aula deve ampliar ainda mais a distância no ensino primário e secundário entre as diversas instituições. A introdução de forma lúdica e acessória do metaverso no primeiro momento, uma tecnologia cara será, um diferencial em diversas disciplinas, mas ao mesmo tempo uma forma de evidenciar o acesso discriminatório e as distorções que a tecnologia pode criar, para os que tem e os que não tem oportunidade.

A passos velozes as novas tecnologias serão incorporadas nas salas de aula, e em breve os óculos de realidade virtual, certamente estarão fazendo parte da lista de materiais dos alunos de algumas instituições de ensino.



Visto como a próxima “revolução” para a internet, o espaço de realidade virtual foi criado ainda na década de 1980 e, nele, é possível comprar terrenos, fazer reuniões, assistir a shows, jogos de futebol e aulas com um avatar que é controlado por você, logo tente imaginar o que pode ser feito em aulas de história, geografia, ou mesmo física onde fórmulas podem ser acompanhadas em 3D?.

Nesse momento, em uma das primeiras salas de aula desse tipo foi lançada na última semana pela FIA Business School, que passou a administrar cursos no Metaverso, assunto retratado em recente reportagem no Estadão. Nessa sala, a professora usa óculos de realidade virtual para ensinar, enquanto os alunos que ainda não tiverem o aparelho podem entrar para o espaço online por meio de videochamada.

O aluno pode participar de casa, deitado na cama, quando é transportado para a sala de aula. Ali, ele anda, fala, bate palma e interage com os colegas, enquanto o professor pode escrever na lousa, digital é claro, podendo ao mesmo tempo tirar dúvidas, tudo ao mesmo tempo ampliando a participação sem distração do conteúdo.

Evidente que além da evolução da tecnologia alunos e professores precisarão ter muitas horas de treinamento para melhor utilização dessa tecnologia, lembrando que ela está em permanente atualização, ou seja, novos conteúdos e configurações surgem diariamente. Assim a nova tecnologia representa um desafio para professores alunos, e claro uma oportunidade gigantesca para os fornecedores de software e hardware, com a ampliação gigantesca dos produtores de conteúdo, um universo inteiro por ser construído, mas que deve evidenciar ainda mais a desigualdade no ensino.

Computador internet Misto Brasília
O uso de tecnologias pelos estudantes faz parte da nova realidade/Arquivo/Internet Innovation

 



Nesse novo universo, para os alunos além dos atrativos visuais e interativos, pois o aluno de qualquer lugar que estiver vai poder participar, desde que tenha um óculos de realidade virtual, estaremos diante da possibilidade do aumento de carga horária, o que pode ser nova receita para escolas ou simplesmente um diferencial competitivo nos primeiros anos.

Já para os professores, as tarefas se ampliam e ou modificam, pois tem de saber a matéria de cor, acompanhar as expressões dos avatares para saber se o aluno está entendendo ou não, controlar os recursos tecnológicos disponíveis, o que implica em muitas horas de treinamento para a categoria, além de muitas dúvidas nos ajustes contratuais da relação trabalhista.

A tecnologia que mostra a nossa evolução é sempre a mesma que instrumentaliza a desigualdade e as nossas diferenças, é o acesso igual e isonômico a ela que funciona como agente da transformação.

Tecnologia desiguala empresas seus produtos e serviços, cria um fosso entre pessoas, registra e aprova o tamanho da desigualdade e serve de certidão para o a indelével marca da desumanidade e barbárie que não diminui com o tempo, apenas altera as suas formas.

Certamente o universo parece caminhar em velocidades distintas, numa formação de astros que não conversam a mesma linguagem, e tampouco a mesma trajetória, nas ruas onde a miséria cresce quase que na mesma velocidade Das novas tecnologias.



Segundo um recente estudo do IBGE um de cada 4 brasileiros vive, sob a linha da pobreza, são cerca de 51 milhões de pessoas que sobreviveram em 2020 com menos de R$ 450 por mês, logo tente imaginar esse quadro sem o auxílio emergencial? Esse mesmo trabalho do IBGE, mostrou que a pandemia agravou as desigualdades no acesso à educação via rede de ensino pública e privada. Os mais pobres tiveram muito menos aulas (presenciais ou remotas), além de enfrentar dificuldades estruturais, como falta de internet e computador até ausência de água e sabão nas escolas para higienizar as mãos.

As ruas são o retrato desse Brasil desigual, onde privilégios são apresentados e defendidos como direitos adquiridos e onde a vontade de ampliar ainda mais privilégios, nas classes (ou seria castas) nunca cessa. São penduricalhos sem fim, ainda que pagos com os tributos que toda sociedade sustenta.

Vejamos pela educação, em uma pesquisa divulgada em de 2020, pelo Instituto DataSenado mostrou que a diferença entre a educação na rede pública e na privada também se revela no acesso dos alunos ao ambiente digital. Dos lares brasileiros cujos estudantes estão tendo aulas remotas na rede pública, 26% não possuem internet. Quando a pesquisa olha para os colégios particulares, o total de alunos sem conexão online cai para 4%.



É o capital humano que faz a diferença na transformação digital, mas é preciso o mínimo de infraestrutura tecnológica para que possamos formar esses profissionais, não é apenas um requisito laboral, mas sim uma questão de valor humano. A cidadania digital, se faz com acesso pleno a todos e não apenas poucos favorecidos.

Como destacamos, a falta de oferta se dá pela falta de conectividade, de dispositivos digitais e de envio de material por parte da rede de ensino. Segundo o Ipea, 16% dos alunos do Ensino Fundamental (cerca de 4,35 milhões) e 10% dos alunos do Ensino Médio (780 mil) não têm acesso à internet.

Paralelamente a esses dados da rede pública, os números das redes privadas e da classe A, são bem diferentes, pois lá cerca de 100% dos estudantes possuem acesso, já nas classes D e E são apenas 40%, e depois tem deslumbrado que ainda vai falar em meritocracia. “Acorda Alice”. O metaverso é sim uma oportunidade desde que ofertado ao máximo possível de alunos e esse é um desafio do Estado Brasileiro e não apenas do governante X ou Y.


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