Os últimos vinte anos mostram regressos sem precedentes na História
Texto de André César
A humanidade ingressou no século XXI acreditando que uma era de ouro se iniciava. O conhecimento baseado na ciência e na tecnologia, a internet permitindo a difusão de ideias em tempo real, a ordem liberal promovendo conforto material a muitos, tudo justificava essa visão. Leite e mel jorrariam em todo o planeta.
Ledo engano. O que se viu foi exatamente o contrário. Os últimos vinte anos mostram regressos sem precedentes na História. Os fatos são incontestáveis.
Começamos com o 11 de Setembro, seguido imediatamente pelas invasões norte-americanas ao Afeganistão e ao Iraque. Logo depois, a crise financeira de 2008 evidenciou as fragilidades do sistema econômico mundial. A Primavera Árabe, inicialmente saudada por muitos, deixou um legado de terror. A ascensão de governos populistas de direita, de Trump a Bolsonaro, e também o Brexit, desnudaram um ideário que parecia sepultado há tempos. A crise climática e a pandemia da Covid semearam o medo.
Agora, a guerra na Ucrânia (e no Yemen e na Somália, para citar apenas alguns) nos coloca novamente à sombra de uma catástrofe nuclear. O imponderável, o impensável até há pouco, agora bate às nossas portas. Pior, vivemos uma crise de lideranças políticas – não há um Churchill na cena global. Perdem todos.
No horizonte, desenha-se uma Nova Ordem Mundial, mas ainda não se sabe em qual direção o planeta caminhará. Um mundo multipolar, com algumas potências econômicas e militares, pode piorar ainda mais o quadro geral.
A verdade é que vivemos uma era de absolutas incertezas. Os rumos do conflito na Europa ainda não estão definidos e nos resta apenas acompanhar o desenrolar dos fatos. Com muita apreensão.
O século XXI tornou-se um terreno perigoso para a raça humana – e para todos os seres vivos, afinal. Na atual quadratura da história, nos resta manter a serenidade. Tempos sombrios à vista.