Energia e o fim do petróleo

Exploração de petróleo alto mar Misto Brasília
A guerra no Oriente Médio influencia o preço do petróleo/Arquivo

A maioria das economias mundiais tem encontrado pouca oferta de insumos para produzir eletricidade

Texto de Charles Machado

A Idade da Pedra lascada não acabou por falta de pedra, bem como a Idade do Ferro não acabou pela falta do mesmo. Certamente a idade do petróleo não vai acabar pela falta dele, mas pela possibilidade de outras fontes energéticas mais vantajosas.

A elevação do preço dos combustíveis e os problemas de fornecimento de energia elétrica e insumos para gerá-la aconteceram quase simultaneamente em todo o mundo neste ano de 2021. O aumento dos preços afeta ao bolso de todos, bem como a produção industrial de nossas empresas e famílias. Porém, enfrentamos um fenômeno que também está causando problemas em todos os países da Europa, nos Estados Unidos e até na China e na Índia, onde há cortes na oferta.



A razão é que a maior parte da eletricidade mundial é produzida usando combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, e uma parte muito significativa de seu consumo, ao contrário da eletricidade, ocorre fora dos países produtores. É por isso, então, que a deriva dos mercados internacionais de combustíveis afeta diretamente a produção e o custo da eletricidade.

Durante a pandemia a demanda global por energia caiu significativamente, registrando historicamente a sua maior queda, desde a Segunda Guerra Mundial, sua recuperação a partir do primeiro trimestre de 2021 tem sido muito rápida, atingindo quase os níveis de 2019. E o problema que a maioria das economias mundiais tem encontrado é que a oferta de insumos para produzir eletricidade não se adaptou ao aumento da demanda. Isso levou a um aumento considerável no preço mundial da energia, que a The Economist, no caso do petróleo, gás e carvão, colocou em 95% desde maio deste ano.

No caso do carvão, é claro que sua produção mundial está em crise. Por um lado, o investimento em novas operações de mineração ou na expansão das já existentes caiu como resultado, entre outros motivos, da preocupação das empresas com uma futura redução da demanda devido à regulação ambiental.

No caso do petróleo, seu preço internacional está intimamente ligado ao do gás, enquanto sua extração ocorre em conjunto (apenas pouco menos da metade da produção mundial de gás é obtida a partir de depósitos exclusivos). Em relação a esses hidrocarbonetos, viemos de alguns anos em que os preços têm sido relativamente baixos, porque houve excesso de oferta em todo o mundo. Não só os Estados Unidos aumentaram sua produção por procedimentos alternativos, como o fracking, mas também os países da OPEP, incluindo a Rússia, fizeram o mesmo para baixar os preços e, assim, expulsar os frackers do mercado.



Os preços baixos induziram uma queda drástica nos investimentos das companhias petrolíferas para manter a produção e buscar novos depósitos (estamos falando de um corte de 40% desde 2015), também induzido por uma previsão de menor demanda futura devido aos compromissos assumidos pelas nações para combater as mudanças climáticas. Com a saída da pandemia no início de 2021, a demanda global por petróleo disparou, fazendo com que o preço do barril chegasse a 85 dólares. E um problema adicional é que, no momento, não há muito incentivo para que os países da OPEP concordem em aumentar seus níveis de extração e reduzir os preços, uma vez que eles precisam de muito mais receita pública para mitigar os efeitos da pandemia e realizar programas generosos para aumentar os gastos públicos.

No que diz respeito ao gás, a oferta mundial tem sido afetada pelas mesmas circunstâncias que o petróleo, além de graves problemas de transporte exacerbados pelo aumento acentuado de sua demanda. Na Europa, os principais gasodutos vêm da Rússia, que fornece quase metade do gás consumido pelo continente, e da Argélia, que abastece a Espanha, sem a possibilidade de aumentar a oferta no curto prazo. O gasoduto que acaba de ser construído para ligar a Rússia à Alemanha está inoperante devido a questões geopolíticas, e no caso espanhol, as disputas entre a Argélia e Marrocos levaram ao fechamento do fornecimento de gás argelino através do gasoduto que passa pelo nosso país vizinho. A forte demanda também afeta o gás liquefeito (GNL), impulsionado pela locomotiva chinesa, sem que tenha havido tempo para iniciar novas usinas de liquefação, nem terminais de carga e armazéns.




A grande esperança que as energias renováveis (solar, eólica, hidráulica) oferecem para atender à demanda ainda está longe de se materializar, tendo em vista uma capacidade instalada ainda muito pequena e sua dependência de flutuações meteorológicas. As secas em várias áreas do mundo reduziram o nível de água apreendido para a hidroeletricidade. Este problema está sendo especialmente pronunciado na América Latina e no sul da Europa, tendo sido compensado pelo aumento da demanda por gás.

Um recente estudo, publicado pela Nature demonstrou que a combinação de energia solar e eólica são suficientes para suprir a demanda energética da maioria dos países no mundo, variando entre 72% e 91% do tempo se calculada sem adicionar armazenamento, e entre 83% e 94% do tempo se doze horas de armazenamento forem adicionadas na forma de baterias e outras tecnologias já existentes.

O Brasil precisa produzir excedentes de energia, seja para manter a sua segurança energética, ou para tornar seus produtos com valor agregado competitivos no mercado internacional.


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