Governo mentiu sobre desmatamento na Amazônia

Desmatamento floresta Amazônica Misto Brasília
Empresas estão preocupadas com um projeto que pode acelerar o desmatamento na Amazônia/Arquivo/Outside

Com credibilidade já abalada no cenário internacional, o governo corre o risco de sofrer ainda mais pressão

O desmatamento na Amazônia entre agosto de 2020 e julho de 2021 atingiu 13.235 km², segundo números divulgados nesta quinta-feira (18) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um número superior a duas vezes a área do Distrito Federal. Foi a maior taxa desmatamento desde 2006 e o número representa uma alta de 22% em relação ao período anterior.

O governo já sabia dessa alta recorde desde pelo menos 27 de outubro, mas o número foi omitido pela delegação brasileira que compareceu à Conferência do Clima de Glasgow (COP26), encerrada no último sábado (13).



“O que a gente tem é um fato grave. Não é só um ministro do Meio Ambiente que foi a COP e não revelou. O ministro declarou que fez reuniões com outros 24 ministros de outros países. Ele fez isso sabendo o dado e não revelou. Ele mentiu em 24 reuniões”, comenta em entrevista à DW Brasil Márcio Astrini, secretário-executivo da rede de organizações da sociedade civil Observatório do Clima, sobre a postura do ministro Joaquim Leite.

Com credibilidade já abalada no cenário internacional por causa da sua política antiambiental, o governo de Jair Bolsonaro corre o risco de sofrer ainda mais pressão no exterior, avalia Astrini. Até o momento, nenhum pacote de ações foi anunciado pela administração para reverter o cenário.




Respostas

“Para resolver o problema, a condição ímpar é a mudança do governo. Não existe a menor possibilidade de ter esperança com Bolsonaro na presidência da República”, pontua Astrini.

A mudança muito substancial é a tranquilidade com a qual o crime ambiental trabalha hoje. Eles estão realmente dizendo com todas as letras o seguinte: “Vocês, ambientalistas, fiscais do Ibama, quem trabalha com a lei, vocês perderam. A gente ganhou. É a gente que comanda”.

Eles estão se sentindo abrigados pelo governo federal. Eles nunca tiveram tamanho empoderamento. Mesmo quando o desmatamento era maior, havia um receio por parte de quem praticava o crime da fiscalização, um medo de ser preso ou multado. Hoje não há o menor pudor”.

Nós temos o nosso pessoal que vai pra campo, eles conversam com madeireiros que dizem que acabou esse negócio de multa. Eles dizem que agora eles têm o governo do lado deles”.



“Faz 22 dias que os dados estavam com o governo. Faz 22 dias que há uma nota escrita com os números por estado, com o valor do desmatamento e uma explicação. Talvez os números estivessem prontos, inclusive, antes do dia 27 de outubro, que é data da nota redigida do ministério.

Não tem como um ministro, um presidente da República, não saber desses números. Eles são estratégicos. A divulgação deles impacta internacionalmente as relações brasileiras. São números com impactos nos governos de estado.

Existe um ritual de tratamento desses números que é: o Inpe finaliza o cálculo, ele é repassado para o ministro de Ciência e Tecnologia e então o governo toma conhecimento como um todo desse dado – ministros da Comunicação, do Meio Ambiente, gabinete da Presidência da República.

O governo começa a coordenar a ação de divulgação, porque ela tem impacto internacional, nos estados. É quando o governo se prepara para dar respostas para a imprensa. Quando os números aumentam, ele já anuncia quais serão as ações pra reverter o cenário.

Esse número era conhecido. O que a gente tem é um fato grave. Não é só um ministro do Meio Ambiente que foi a COP e não revelou. O ministro declarou que fez reuniões com outros 24 ministros de outros países. Ele fez isso sabendo o dado e não revelou. Ele mentiu em 24 reuniões. O presidente da República foi para o G20 também sabendo dos dados de desmatamento. Isso é gravíssimo.

Eu estou conversando com embaixadores de outros países pra medir o impacto disso. Eu não sei se tinha alguém que ainda acreditasse no governo Bolsonaro, mas, caso houvesse, isso acabou agora”.




“Mostra na verdade a covardia. É um governo de covardes. Porque eles sabiam dos números e não são capazes de lidar com os próprios problemas que eles geram, que são consequências das políticas que eles implementam.

O ministro, na quarta-feira passada, fez um discurso na plenária geral da COP em que ele fala que o governo está controlando o desmatamento, diz que estão implementando ações e cita números de contratações de fiscais do Ibama e de orçamento. E não fala dos números de desmatamento.

Quer dizer: ele propositalmente omite. Eu nem sei se isso tem alguma previsão legal dentro do país, pois o Leite era chefe da delegação brasileira. Ele não falava só como ministro, ele falava em nome do Brasil num fórum das Nações Unidas. É muito escandaloso”.


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