A mobilidade urbana nas cidades passa por uma solução pelo uso dos carros
Texto de Charles Machado
Por hábito, uma parcela significativa da sociedade sempre delega para terceiros a construção de um mundo melhor, mais justo, fraterno e sustentável. Existe sempre a lógica isso não começa por mim”, e é nisso que reside o maior erro.
A sustentabilidade, que anda a par e passo com a tecnologia, pode ser alcançada nos pequenos gestos, nas pequenas atitudes e principalmente é algo que começa no poder local, seja dentro das nossas casas ou nas ruas das nossas cidades.
Você sabe quais são os incentivos fiscais que o seu estado ou a sua cidade estão disponibilizando para o fomento da mobilidade sustentável? Ou tudo se resume a mais vias de trânsito, para circular mais carros?
Qual o valor do seu tempo perdido no trânsito? Quantos anos da sua vida o trânsito deve consumir? Quem deve lhe indenizar por todo esse tempo perdido?
Em 2019 o Google ampliou seu plano de incorporar ao Google Maps o status de localização e disponibilidade das estações de compartilhamento de bicicletas, nas cidades onde esse serviço existe, algo que já havia começado em abril de 2018 na cidade de Nova York, uma decisão que acompanhava o movimento do Apple Maps e de outros aplicativos da época como CityMapper. Prestando assim um grande serviço a micro mobilidade, porém qual seria o grande obstáculo, ou os maiores obstáculos para ampliação desse modal logístico?
No geral o cidadão comum, diante da possibilidade de pegar uma bicicleta e pedalar até o seu destino, a menos que não tenha, devido à idade ou limitações, a condição física para fazê-lo, não o assusta. O que o assusta são os riscos desse trajeto, por andar em um veículo sem carroceria para protegê-lo, e fazê-lo cercado por carros, compartilhando a estrada com veículos de uma tonelada ou mais que também, nas cidades, dirigem de forma geralmente agressiva e não levam bem o fato de reduzir sua velocidade para adaptá-lo ao de um veículo de mobilidade pessoal, como uma bicicleta ou uma scooter.
O problema em nossas cidades não são as bicicletas: são os carros. E especificamente, os seus direitos e privilégios adquiridos. O que precisa ser resolvido para melhorar a mobilidade nas cidades não é o problema colocado pelas bicicletas, mas o problema colocado pelos carros. E para consertá-lo, você tem que começar transformando esses carros em uma solução muito menos atraente. A forma de fazer isso pode ser restrições ao seu movimento em determinadas áreas, como se propõe em um número crescente de cidades; a introdução de pedágios, como outros; mas, acima de tudo, deve vir da eliminação dos direitos adquiridos, essencialmente, do estacionamento.
O que leva as pessoas a pensar que as ruas são o lugar certo para abandonar seus veículos por horas? O estacionamento de superfície envolve a apropriação para uso privado de um espaço público. Muitos municípios aproveitam essa situação para se financiar, tudo bem, mas isso não muda o fato fundamental: que estamos utilizando um espaço público que poderia ser colocado a serviço de todos os cidadãos, para que um número de pessoas, quer paguem ou não, usem-na como garagem privada.
O estacionamento de superfície nos priva de um espaço estratégico para o desenvolvimento de opções alternativas, e além disso, o hábito de procurar vaga de estacionamento na rua contribui muito negativamente para o congestionamento. Nas cidades do futuro, o estacionamento de superfície está condenado a desaparecer completamente.
A medida fundamental para tornar as cidades atraentes para opções de mobilidade pessoal, como bicicletas ou patinetes, é a criação de faixas habilitadas para elas, onde os cidadãos podem se locomover sem arriscar suas vidas. E a única maneira razoável de permitir esses espaços é tirá-los do estacionamento da superfície. Não mais considerando a rua como um espaço para abandonar um carro por horas. A equação é tão simples.
Não é uma proposta de eliminara vagas somente, mas de realocá-las dando as ruas ao trânsito e não para estacionamentos, só para ajudar se os prédios e residenciais e comerciais aumentarem o número de vagas de estacionamento ganham todos. Isso requer uma mentalidade diferente, pois as cidades não podem mais serem construídas tendo o carro como prioridade, a prioridade precisa ser a saúde das pessoas.
A sustentabilidade desse modelo de cidade depende de repensar a lógica, sem o comprometimento da arrecadação dos tributos, e logo a carga tributária para aquisição das bikes e patinetes precisa ser reduzida. A regulamentação das cidades exerce um papel primordial, e temos tecnologia para isso, disponível e barata.
Afinal quantas cidades brasileiras obrigam seus prédios novos e antigos a instalarem sistemas de energia solar e ou eólica? Quantos são os prédios que ampliaram o número de vagas para bikes e patinetes, veja o shopping da sua cidade e tire a medida dessa falta de incentivo, onde os carros reinam soberanos sobre os meios de locomoção sustentáveis. A mudança começa em casa.