Acordamos assustados com uma mulher ferida, machucada, com marcas de agressão no rosto
Texto de Raquel Dias
A Manuela já tinha falado com a Joice sobre como nos sentimos tristes por ela. “Não é mesmo nada fácil ser mulher e cair nas mãos da milícia virtual que governa o Brasil. Não é fácil ver como eles envolvem nossos filhos para buscar nos destruir emocionalmente. Tentam nos liquidar, Joice, nos levar às lágrimas. Como te levaram na tribuna ontem, como me levam quase todos os dias há longos quatro anos”, escreveu Manuela.
Este foi outro episódio na trajetória dolorida de Joice, que tinha pensamentos comuns para mulheres que desconsideram a luta que é sobreviver sendo mulher.
Joice é colocada como representante da extrema direita e se declara conservadora, foi instrumento simbólico do machismo mais baixo ao ser menina propaganda do bolsonarismo, e, por vezes, se colocou como prova de que “essa bobagem de feminismo” não servia para nada, afinal, segundo a própria, olha onde ela havia chegado!
Mas o que Joice não sabia, e que iria descobrir em breve, era que o feminismo só existe, porque temos a necessidade de enfrentar os machismos do dia a dia. E nos dias que se seguiram, ela teve inúmeras provas disso.
Joice descobriria isso quando acreditasse que podia definir sozinha seu destino político e, em 2018, sabendo ser popular, entendeu ser a hora de brigar por uma vaga ao Senado, nas eleições de São Paulo, a capital econômica do Brasil. Acabou sendo colocada como candidata a deputada federal. Como será que foi a mudança de decisão dela?
Estava na crista do momento daquela massa disforme que mistura muita religião, poucas ideias exequíveis e muitas pautas identitárias e foi a deputada federal mais votada da história brasileira com mais de um milhão de votos! E sua ascensão não parou por aí, ela foi alçada a símbolo político do bolsonarismo ao ser colocada como líder do governo na Câmara dos Deputados, mas sua chegada ao topo provaria ser uma armadilha quando Joice cometeu um erro que a levaria ao inferno…
Ela ousou não ser a Bia e discordou dos que se julgavam seus criadores, colocada como símbolo e líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal, em fevereiro de 2019. Em outubro daquele mesmo ano ao se opor ao nome de Eduardo Bolsonaro para Líder da Câmara, começando aí o caminho para que aquilo que até ontem abominava e atacava se tornasse sua forma de combate e enfrentamento ao que viria.
E veio tão exposto e nojento como é o machismo: falam da aparência a ponto de ela se incomodar e mudar, atacam família, inventam, torcem, distorcem e Joice, usando tudo o que o feminismo lhe possibilita, esbraveja, usa a justiça, levanta a cabeça apontando seus algozes.
E, nesse caminho, acordamos assustados com uma mulher que lembra aquela vizinha do prédio, a ex daquele DJ, a mãe daquele menino que namorava o vereador no Rio, uma Joice ferida, machucada, com marcas de agressão no rosto…
Logo surgem milhares de versões e o machismo que hoje a persegue faz festa, inventa fake news, cria teorias que desconstroem sua imagem. Ela diz não lembrar o que houve, que acordou numa poça de sangue. Uma história tão estranha, mas com uma imagem tão comum em um Brasil que matou 1.338 mulheres por feminicídio só em 2020, que ao assistir os machucados de Joice, ficamos tristes e sabemos que ela está sendo vítima do machismo que aplaudiu, do qual foi símbolo e que reforçou.
Que a Joice consiga, usando tudo que o feminismo lhe dá, levar os culpados dessas agressões à justiça.