Texto de André César
Definida a data da sessão de instalação, 27 de abril próximo, a CPI da Covid do Senado Federal começa a aquecer seus motores. Ao longo dos próximos meses o mundo da política orbitará em torno das investigações que serão conduzidas pelo colegiado. O roteiro inicial das atividades é um claro indicativo de que os parlamentares terão vasto material para trabalhar.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), um dos responsáveis pela criação da CPI, montou uma lista de assuntos que entrarão na agenda da investigações. De tão extensa, fica-se com a impressão de que os senadores não terão tempo hábil para apurar a fundo todos os pontos.
Inicialmente, deverão ser tomados os depoimentos de nomes centrais na crise gerada pela pandemia, como os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). Os depoimentos de ambos são dos mais aguardados e, inevitavelmente, preocupam o Planalto.
Também será ouvido o ministro da Economia, Paulo Guedes. Em baixa no governo e com temperamento explosivo, a fala do ex-Posto Ipiranga pode gerar momentos de tensão no colegiado. Mais uma fonte de preocupação para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
No campo específico da Saúde, além de Pazuello, deverão comparecer o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Desafetos do presidente da República, os dois últimos têm muito a falar – inclusive sobre o negacionismo do governo, que dificultou muito o combate à pandemia em seus estágios iniciais.
As frentes de investigação serão as mais diversas. A princípio, serão 18 temas distintos, entre eles a crise no Amazonas, a falta de insumos básicos, problemas na logística, a demora na aquisição de vacinas e o incentivo governamental ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina. Como dissemos acima, de tão extenso o cardápio torna-se praticamente inviável.
Importante ressaltar que a CPI será o maior teste a ser enfrentado pelo governo Bolsonaro desde sua posse, no início de 2019. A articulação política do Planalto, em geral capenga, não poderá cometer erros. A oposição sabe disso e, não por acaso, escalou nomes de peso, como os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM). O jogo será bruto.
“CPI a gente sabe como começa, mas nunca se sabe como termina”. O clássico chavão da política brasileira está mais atual que nunca. Fortes emoções aguardam a todos, a partir da próxima semana.