Dá para ter um feliz Ano Novo com a velha política?

Bolsonaro rampa do Planalto
Bolsonaro fala na rampa do Planalto ao vivo em rede social/Arquivo/Reprodução vídeo

Texto de Noemí Araújo

Conseguimos! Chegamos ao último dia desse ano indecifrável que ainda estamos tentando digerir. E, é agora que chegamos à fase dos textões e clichês reflexivos que tomam conta das redes sociais e dos nossos pensamentos. Por aqui, não seria diferente, mas como sempre, focado na política. Afinal, tudo é sobre política, não é mesmo?

Ao longo desse ano, em especial nos últimos seis meses, tentei abordar semanalmente a política de uma forma mais simples e fácil de se compreender. Apresentei a vocês a proposta de tradução da política, a fim de que meus leitores pudessem ampliar ou talvez inaugurar seu conhecimento político a partir do que é noticiado nas mídias sociais.

E algo ficou bem claro: aquilo que tanto se buscou em 2018, e ainda tentou suspirar em 2019, aquele grito do gigante contra a velha política, pelo visto, esmoreceu. Quando falamos em velha política, como já abordei aqui, não se trata apenas da idade avançada de muitos políticos, do grande número de mandatos, ou pela transição de gerações de verdadeiros clãs brasileiros que ainda continuam a dominar o cenário político. Se trata também do antigo modo de se fazer política que ainda se perpetua na nossa sociedade – as velhas práticas corruptas, às vezes nítidas, que não respeitam os limites da moral e da ética.

Se você ainda tem dúvidas disso, talvez então você já seja parte disso, até porque, para fazer política, não precisa ser eleito. Você aprendeu isso aqui, não foi? Mas para reforçar mais uma última vez, basta apenas olharmos para quais partidos têm maiores chances de vitória na disputa da Presidência da Câmara dos Deputados: MDB X PP. O deputado Baleia Rossi é o nome apoiado pelo atual presidente Rodrigo Maia, é do MDB, do ex-presidente Temer, que foi peça fundamental no impeachment da ex-presidente Dilma (PT), e que hoje, mais uma vez, se aproximam em aliança para a vitória na Casa.

Do lado oposto, está o deputado Arthur Lira, do Progressista (PP), candidato do presidente Bolsonaro. O PP, o partido do Paulo Maluf, um dos principais partidos do Centrão, tanto criticado em 2018 por Bolsonaro enquanto candidato, e também por seu atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Heleno, que na época afirmou que “o Centrão é a materialização da impunidade”. Mas que agora, no início desse mês, o Presidente afirma à imprensa: “ficar satanizando partidos não existe” (…) “eu quero deixar bem claro, quando o pessoal fala em “Centrão”, eu já integrei, vamos lá, PP, PTB, PFL, atualmente, DEM e PSC (…)”.

Mas, realmente, mais de 57 milhões de votos acreditaram que a “mudança de verdade” viria. Será que agora para 2021 ela chegará? Talvez ela chegue antes da vacina para o Brasil, já que nem seringas suficientes temos ainda, mesmo sob a coordenação de um especialista em logística no comando do Ministério da Saúde, em um país com mais de 7,5 milhões de casos e quase 200 mil mortes pela Covid-19. Além dos impactos econômicos apontados no artigo do dia 30/12 do colega Vivaldo de Souza.

A corrupção nesse governo tinha até acabado de acordo com as palavras do presidente Jair Bolsonaro. Mas então, esta semana Bolsonaro foi eleito como “Pessoa Corrupta do ano” pelo Projeto de Reportagem de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP), um dos maiores consórcios de jornalistas investigativos do mundo e centros de mídia independente, criado na Europa. Bolsonaro também concorria contra Donald Trump, o qual “venceu por pouco”. Em outros anos, foram escolhidos Vladimir Putin e Nicolás Maduro. A justificativa para a vitória do prêmio, deu-se pela “família de Bolsonaro está cercada de figuras corruptas, usado propaganda para promover sua agenda populista, minado o sistema de Justiça e travado uma guerra destrutiva contra a região da Amazônia, o que enriqueceu alguns dos piores proprietários de terras do país”.

Minha esperança está no fato de que: nós somos atores políticos, nós fazemos política diariamente, ela depende muito mais de nós do que daquele que elegemos. E, é por isso, que a responsabilidade recai sobre nós quando decidimos colocar alguém no poder e mantê-lo, quando nos tornamos omissos e compactuamos com ações corruptas e desumanas. A mudança, de fato, começa a partir de nós ao reconhecer a necessidade de transformação dos líderes que temos escolhido, afinal eles são apenas reflexo da comunidade que os escolheram.

Para o nosso ano feliz, por mais que estejamos limitados às escolhas passadas, resta-nos a necessidade de reconhecimento de poder sobre a mudança do futuro, a partir do meu e seu voto, a partir da não complacência com a criminalidade e desigualdade social e do nosso comportamento cotidiano. E só assim, talvez o brasileiro consiga ter um dia de paz, um ano próspero e com vacina. Quando deixarmos o egoísmo e formos compassivos. Pois sim, temos pressa de dias melhores!

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