Quem é Joe Biden, o presidente eleito dos Estados Unidos

Joe Baden e Barack Obama
Biden quando foi vice-presidente de Barack Obama por oito anos/Arquivo/Reuters

Joe Biden, com 77 anos, é de longe o candidato mais velho a conquistar a presidência dos EUA. Ele terá 78 anos quando tomar posse, em janeiro.

Católico de uma família de classe trabalhadora, Joseph Robinette “Joe” Biden Jr. tem uma carreira política que se entende por mais de meio século. Ele passou a disputar cargos em 1969, montando sua base eleitoral em Delaware. Entrou para o Senado em 1973, aos 30 anos, e até hoje detém o recorde de terceiro senador mais jovem da história dos EUA no século 20.

Ele também chega à Casa Branca mais de três décadas depois de sua primeira tentativa de representar a legenda na disputa presidencial. Ele tentou duas vezes emplacar uma candidatura, em 1988 e 2008, mas em ambas falhou em conquistar a simpatia do eleitorado democrata.

Sem o dom para a oratória e o carisma de outros tantos políticos democratas, como Barack Obama ou John Kennedy, ou seguidores apaixonados como Bernie Sanders, Biden jamais foi o tipo de candidato que entusiasma o eleitorado. Muitos democratas admitem que ele estava longe de ser o candidato ideal, especialmente para a ala que tenta puxar o partido para a esquerda. Seu carisma e personalidade amigável também costumam se manifestar melhor com pequenas plateias e contato direto – algo que foi bastante dificultado pela pandemia. Para piorar, ele sempre foi dado a gafes.

Em 2020, no entanto, essa personalidade moderada e pouco polarizadora acabou se mostrando uma receita vencedora diante do populismo de Trump, um dos presidentes mais decisivos da história americana. Trump, que deve parte de sua ascensão em 2016 aos ataques incendiários que distribuiu contra seus concorrentes, teve dificuldade de pintar “Joe sonolento” (como se referia a ele) como um vilão ou um “comunista”, ao contrário do que ocorreu com Hillary Clinton. O democrata também foi beneficiado por esta eleição ter sido transformada num plebiscito sobre a era Trump, que teve seu último ano marcado pela gestão errática da pandemia e o declínio da economia.

Depois de quatro anos de montanha-russa trumpista, estava aberto o caminho para um “candidato normal”. Em agosto, Biden resumiu a disputa como “uma batalha pela alma dos Estados Unidos”. Em março, Biden parecia liquidado em mais uma disputa pela indicação do Partido Democrata, mais viu sua então pré-candidatura ressurgir das cinzas na chamada primária da “Super Terça” no sul do país.

Durante a pré-campanha e a disputa direta com Trump, ele apelou de maneira sistemática para seus oito anos de experiência como vice-presidente ao lado do “amigo” Barack Obama na Casa Branca, uma arma que se revelou determinante para conquistar o eleitorado negro do país.

Dramas pessoais – Sua trajetória pessoal também contou com uma forma de angariar empatia entre o eleitorado. Biden tem uma vida marcada por tragédias. Menos de um mês após sua primeira eleição para o Senado em 1972, sua primeira esposa, Neilia Hunter, e sua filha de 1 ano morreram em um acidente de carro quando saíram para comprar uma árvore de Natal. Seus dois filhos ficaram gravemente feridos, mas sobreviveram ao acidente. No entanto, o mais velho, Beau, morreu vítima de câncer em 2015.

Seu outro filho, Hunter, um advogado que atua como lobista, foi uma potencial fonte de problemas para Biden ao longo da campanha. Ele recebeu somas elevadas para fazer parte do conselho de uma empresa de gás ucraniana quando o pai era vice-presidente de Obama entre 2009 e 2016, o que rendeu acusações de que Hunter usou essa ligação em benefício próprio.

Trump, que mesmo antes do início da pré-campanha democrata já dava sinais de ver Biden como seu adversário mais perigoso numa eleição, pressionou o governo da Ucrânia a investigar Biden pelos negócios de Hunter. O republicano recorreu até mesmo ao congelamento de verbas para os ucranianos como forma de emparedar Kiev. Isso rendeu um processo de impeachment, que acabou barrado no Senado, de maioria republicana.

Hunter nunca foi investigado pelo caso, mas Trump tentou explorar a questão sempre que teve a oportunidade durante a campanha de 2020, mas o espantalho não funcionou como suas manobras similares em 2016 contra Hillary. Com o caso Hunter não rendendo o esperado, Trump passou a se concentrar em pintar Biden como um idoso gagá.

Aceno a bandeiras progressistas – Apesar de não ter sido recebido com entusiasmo pela esquerda do Partido Democrata, Biden demonstrou ao longo da carreira que nunca temeu abraçar posições mais progressistas, embora de maneira mais lenta do que alguns desejariam.

Em 2012, como vice, ele disse que estava “absolutamente confortável” com o casamento gay, forçando Obama a acelerar seu apoio explícito a tais uniões e contribuindo para que a Suprema Corte as legalizasse, em 2015. Nos anos 1990, em contraste, Biden votou a favor de uma medida que na prática barrava homossexuais declarados de servir nas Forças Armadas.

Ele também foi muito criticado por ajudar na redação de uma lei de 1994 que muitos democratas acreditam ter provocado a detenção de uma quantidade desproporcional de cidadãos negros. Recentemente, Biden reconheceu que essa iniciativa foi um erro.

Mas essa forma lenta de abraçar novas posições também é uma faceta de uma personalidade que não se prende a dogmas e que acompanha as mudanças de humor do eleitorado. Em 2002, por exemplo, ele votou a favor da invasão do Iraque na esteira dos ataques de 11 de Setembro, uma causa que era popular entre a maior parte dos americanos. Em 2008, quando a guerra já havia virado um atoleiro para os americanos, defendeu a retirada das tropas.

São mudanças que podem ser encaradas como oportunismo, mas que também costumam ser vistas como pontos fortes, dependendo do personagem. Nesse sentido, Biden compartilha similaridades com a chanceler federal Angela Merkel, outra personalidade que caminhou para o centro e que ao longo da trajetória reverteu suas posições sobre energia nuclear e imigração seguindo o humor da população. (Da DW)

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