A reedição da Crise dos Mísseis pela Venezuela

Soldado russo uniforme venezuelano
Russo usando El Fidelito, como alguns chamam o uniforme verde do Exército/Arquivo/Infobae

Texto de Marcelo Rech

No dia 23, Nicolás Maduro anunciou a criação de um Conselho Militar Científico e Tecnológico para tornar “mais independente” o sistema de armas venezuelano. No entanto, a medida irá entregar à Rússia, China, Irã e Cuba, o controle efetivo do complexo militar da Venezuela. Com a justificativa de que mercenários estariam sendo treinados na Colômbia para invadir o país, Maduro quer mostrar que a Venezuela não está isolada internacionalmente.

Por outro lado, o regime estuda a possibilidade de adquirir do Irã, mísseis de médio e longo alcance, o que poderá reascender na região tensões como as vividas em 1962 com a Crise dos Mísseis de Cuba, quando o mundo esteve, por 13 dias, à beira de uma hecatombe nuclear.

Para Rússia, China, Irã e Cuba, o assessoramento prestado à Venezuela se traduzirá em uma contrapartida que inclui desde a exploração de recursos naturais venezuelanos até a instalação de bases militares no país. Para os quatro, se trata de um exercício de pressão contra os Estados Unidos. Para Maduro, essa aliança poderá representar sua sobrevivência no poder.

Soldados russos com uniformes militares venezuelanos já teriam sido vistos nas fronteiras com a Colômbia e o Brasil. Embora a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela seja algo bastante improvável, para Maduro interessa reforçar essa retórica para justificar a presença de forças militares extrarregionais no país.

Em relação aos mísseis iranianos, é importante destacar que, desde 18 de outubro, o Irã pode realizar esse tipo de negociação, uma vez que as restrições impostas pela Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, caíram automaticamente. As sanções aplicadas pela ONU foram canceladas em troca de controles mais rigorosos sobre o programa nuclear iraniano.

Washington ainda tentou estender o embargo, mas não logrou convencer o Conselho de Segurança da ONU. Por isso, os Estados Unidos decidiram fortalecer suas sanções contra o Irã, Venezuela e Síria, países que, segundo o Pentágono, seguem apoiando o terrorismo internacional.

À diferença do ocorrido em 1962, os Estados Unidos não irão esperar pela instalação de mísseis no seu quintal. O enviado especial da Casa Branca para a Venezuela, Elliot Abrams, já avisou que Washington simplesmente eliminará os mísseis que chegarem à Venezuela. O aviso foi reforçado pelo Secretário de Estado, Mike Pompeo.

De acordo com o Departamento de Estado, o Irã negocia a venda de armas junto com a entrega de petróleo e gasolina para a Venezuela. Em agosto, um navio petroleiro iraniano foi interceptado pelos Estados Unidos e 1,1 milhão de barris de petróleo foram confiscados.

O Embaixador do Irã na ONU, Alireza Miryousefi, também revelou que o país irá buscar na Rússia e China, os fornecedores de armas para as suas Forças Armadas. Já o chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, celebrou o 18 de outubro como o início de uma nova etapa nas negociações de armas por parte do Irã. Ele deixou claro que Teerã irá negociar a compra e venda de armamentos com quem bem entender.

Segundo o diretor executivo do Centro para uma Sociedade Livre e Segura, Joseph Humire, há 14 anos o Ministério da Defesa e Logística das Forças Armadas do Irã trabalha com a Companhia Anônima Venezuelana de Indústrias Militares (Cavim) para consolidar a presença da Guarda Revolucionária Islâmica na Venezuela.

Ao que parece, Maduro está mesmo disposto a mergulhar a região em uma nova disputa geopolítica que incluirá, também, a Bolívia com o retorno do MAS ao poder e o regresso de Evo Morales a La Paz. Morales também vinha aprofundando o relacionamento militar com o regime persa, algo que pode ser retomado a partir da posse de Luis Arce. Já China e Rússia, seguem presentes na Bolívia e atuam nas áreas estratégicas que incluem os assuntos militares, de segurança e defesa.

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