Nossa atenção precisa estar voltada às mulheres candidatas

Mulheres manifestação
Mulheres fazem manifestação numa pauta que é constante: a representatividade/Arquivo

Texto de Noemi Araújo

Graças ao “encontro da ciência, da política e do direito” (fala do Ministro Roberto Barroso) um acordo foi construído para que fosse possível a promulgação da Emenda Constitucional nº 107, que oficializou o adiamento das eleições municipais deste ano. Mesmo sendo uma importante decisão, os impactos e consequências podem ser drasticamente diferentes entre as 5.570 cidades que elegerão seus prefeitos e vereadores este ano.

Mas todas essas cidades compartilham de um ponto em comum: a sub-representação das mulheres na política. Nessa disputa eleitoral em plena pandemia, defendo que nossa atenção precisa estar voltada às mulheres candidatas, que mesmo sendo maioria da população e do eleitorado brasileiro, ainda são minoria nas candidaturas em eleições municipais e gerais. Qual delas terá a coragem de enfrentar uma disputa eleitoral que ainda não tem um plano de trabalho e logística definidos para sua cidade, nem uma expectativa de quando conseguiremos, enquanto nação, achatar a curva de contaminação e superar este estado de calamidade pública?

Se tudo é política, a vida dela e de sua família também são. “Na interlocução com a sociedade percebemos que muitas mulheres estão se ocupando ainda mais das tarefas relacionadas aos cuidados e sustento familiar e postergando o chamado à participação política, precisamos apoiar esses grupos para que não percam a oportunidade de ocupar seus espaços de poder”, com bem destaca Giovanna Victer, atual Secretária de Fazenda de Niterói (RJ).

Imaginem então como essas mulheres, que em algumas cidades ainda estão proibidas de se reunirem por questões de saúde, farão suas campanhas e se farão conhecidas? Muitas nem acesso à internet têm, nem seu eleitorado, o que dificultará ainda mais a aproximação e conquista dos votos. As convenções partidárias que poderão ser realizadas de forma online, proporcionarão grau de transparência e representação necessária que as levarão a serem escolhidas como candidatas de seus partidos? E depois, serão assistidas e capacitadas para disputarem igualmente as vagas?

Vou além: algumas podem ter perdido algum amigo ou familiar nesses últimos meses, tendo suas forças físicas e psicológicas abaladas para participar de algo tão intenso e desafiador; podem também ter perdido suas redes de apoio. Ou, até mesmo, quantas não estavam decidas a se candidatarem, mas tiveram suas vidas precocemente interrompidas por esse vírus?

Os avanços quanto à representatividade de gênero no cenário político estão criticamente ameaçados. Dados do TSE apontam que as mulheres representam 16% do total de eleitos em 2018, com o DF liderando o ranking com 25% e, em última posição, o estado do Espírito Santo com 8,6%. “Minha luta diária é mostrar que a política é sim uma profissão e que o único meio de construirmos uma política pública eficiente para as mulheres, será com as mulheres ocupando esses espaços”, alerta a vice-governadora Capixaba, Jaqueline Moraes (PSB).

Se os desafios intrínsecos à uma candidatura feminina: autoconfiança baixa, machismo, racismo, dupla jornada, falta de apoio financeiro e capital político, entre outros já não fossem limitadores suficiente, some-se ainda o contexto de pandemia. Nossa esperança é que temos inúmeras lideranças e organizações que têm se levantado em defesa de vidas e da democracia, que lutam diariamente pela equidade de gênero através da capacitação, formação e empoderamento de mulheres.

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