Este texto foi publicado há umas três semanas em meu perfil privado, numa rede social. Quis republicá-lo, contudo, com algumas poucas novas informações e pequenas mudanças. Mas, também, porque, entre os textos que já escrevi, este me parece ser um dos mais acertados.
Outro dia falei que quando morei na França fiz faxina: me ajudava a pagar o aluguel. Não tenho nenhum problema com isso. Aliás, repito. Falo dez vezes, se eu quiser. Eu teria vergonha se não trabalhasse. Trabalho desde os 17 anos e pouquíssimas vezes parei.
Tenho uma extensa lista de atividades realizadas. Dei aulas particulares de português e de redação, fui monitora de redação em cursinho pré-vestibular, fiz pesquisa de rua, em Paris trabalhei no caixa do McDonald’s, tentei passar roupas (não sabia, que vexame), fiz faxina, passeei com velhinha, fui baby sitter.
Antes disso, no Brasil, fui bolsista de pesquisa na graduação (não é bem um emprego, mas eu trabalhava bastante), fui monitora no SAL /UnB, assessora de Gabinete numa Secretaria Estadual de Educação, assistente na Assessoria de Comunicação de uma Secretaria Estadual de Fazenda.
Depois, fui revisora de textos em jornal, professora de francês em curso de idiomas, professora particular de francês, professora substituta em universidade pública, professora de francês da Escola de Línguas da UnB, trabalhei ocasionalmente para o Cespe/UnB várias vezes, entre 2002 e 2004, e hoje sou professora Adjunta em uma universidade pública. Ufa!
Havia me esquecido, entre outras, de falar do Cespe, no primeiro texto. Que mancada! Aprendi muito. Quando trabalhei como chefe de sala em concursos públicos, tinha que estar no local do certame antes das 6h30 da manhã. Tudo deveria ser impecável. Aprendi a ser perfeccionista e rigorosa comigo mesma (mais ainda). O Cespe foi um dos grandes aprendizados da vida, para mim. Só tenho gratidão à instituição.
É possível que ainda haja mais alguma coisa de que não me lembro agora. Mas tenho orgulho de absolutamente tudo o que fiz. Tenho saudades. Vivi momentos únicos. Aprendi muito. Ganhei meu dinheiro com honestidade. Fiz tudo bem feito. Fiquei longe da perfeição, mas tive entusiasmo em cada empreitada. Não tenho vergonha, tenho orgulho. Como eu disse, vergonha eu teria se não trabalhasse. Se vivesse uma vida inútil. Se laborasse desonestamente. Se usasse alguma vantagem em meu poder para prejudicar alguém. Se não tivesse a consciência de que tudo o que fiz foi imperfeito, mas foi o melhor possível, no dado momento.
Fora isso, recomendo uma faxina a quem não se encaminhou na vida. O trabalho de limpeza é depurativo de pensamento, corpo e alma. Pode valer por várias sessões de terapia. Pode impulsionar um espírito generoso. Pode ajudar a compreender as más inclinações do próprio espírito. Faxina faz bem. É limpeza no sentido figurado e no real. É limpeza em sua acepção simbólica, é recomeço e descarte de inutilidades, futilidades e imundícies. Até o papa deveria pegar num pano de chão de vez em quando.