O filme estreou recentemente na Netflix. É um drama biográfico de primeiro costado. Ótimo – na minha opinião. O roteiro é conduzido com maestria pelo brasileiro Fernando Meirelles, o cineasta que dirigiu o premiado Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira.
Assisti ontem à noite Dois Papas, que foi escrito por Anthony McCarten, a partir de “O Papa”, do próprio escritor. Creio que seja um dos melhores filmes produzidos neste ano. Não falo apenas das tomadas diferentes, de um estilo conciso de contar a história ou das excelentes interpretações de Anthony Hopkins ou de Jonathan Pryce.
O interessante são os diálogos entre os dois personagens que interpretam o papa Bento XVI e o atual papa Francisco. As questões pessoais e o papel de Deus na solução desses conflitos. O importante – mais uma vez na minha simples observação – é o poder do perdão, pois todos nós somos humanos e, evidentemente, temos falhas e arrependimentos em nossa trajetória de vida.
O filme é denso, mas consegue ser leve pela sensibilidade da direção, da edição e, principalmente, pelos diálogos entre Francisco e Bento. Há um humor nas respostas inteligentes.
Meirelles foca especialmente no passado de papa Francisco. Mostra os horrores da ditadura argentina (1976-83), que ceifou a vida de 30 mil pessoas. Aí está colocado um conflito político, porque Jorge Mario Bergoglio, então chefe dos franciscanos na Argentina e no Uruguai, teria se sujeitado aos interesses da ditadura militar.
Papa Bento recebe a confissão, perdoa o cardeal, assim como ele foi perdoado por um dos colegas franciscano torturado pelos agentes da ditadura.
Bento também se confessa. E nesta conversa admite que não houve mais a voz de Deus, mas seu conflito para a renúncia encontra um ponto de equilíbrio emocional.
Depois de eleito como 266º Papa da Igreja Católica, em fevereiro de 2013, o papa Francisco assiste ao jogo decisivo da Copa do Mundo 2014 entre Argentina e Alemanha, no Maracanã, com o papa Bento, agora como Papa Emérito e Romano Pontífice Emérito da Igreja Católica.
Os dois bebem cervejas e trocam impressões sobre a partida. Esse é um dos momentos interessantes de Dois Papas, pois mostra que mesmo com os conflitos dogmáticos, é possível uma convivência pacífica e harmoniosa.
É uma ótima mensagem para 2020.