As vidas de Angélica Amanda da Silva Andrade e Marcela Nayara Rodrigues sofreram uma reviravolta em 25 de janeiro de 2019, quando uma barragem da Vale se rompeu em Brumadinho. A tragédia deixou 270 mortos, entre eles a irmã de Angélica e o pai de Marcela, ambos funcionários da mineradora. Nove meses após o desastre, as duas jovens vieram para a Alemanha em busca de justiça.
Angélica e Marcela fazem parte do grupo de cinco mulheres – filhas, esposas e irmãs de mortos na tragédia – que apresentaram na semana passada em Munique uma denúncia contra a certificadora TÜV Süd, que atestou a estabilidade da barragem, e contra um diretor da empresa no país, sob acusações de homicídio culposo, negligência e corrupção.
A denúncia na Alemanha só foi possível graças às investigações realizadas no Brasil, que reuniram indícios concretos de que a sede da TÜV Süd em Munique e um diretor alemão da certificadora tinham conhecimento e poder de decisão sobre as questões da subsidiária brasileira, a Bureau de Projetos e Consultoria Ltda.
As investigações sobre a tragédia indicam que os engenheiros da subsidiária sabiam que a barragem tinha problemas de segurança desde março de 2018. Um diretor da certificadora na Alemanha, que supervisionava a equipe brasileira e viajava cerca de uma vez por mês ao Brasil, teria sido informado sobre o caso e questionado pelos funcionários sobre como eles deveriam agir naquela situação.
Apesar das dúvidas quanto à segurança e da recomendação de um dos engenheiros para não confirmar a estabilidade, a TÜV Süd atestou a estabilidade da barragem em junho e setembro de 2018, poucos meses antes do rompimento da estrutura. E-mails indicariam que os funcionários da certificadora estavam sendo pressionados pela Vale para assinar o relatório.