Em 29 de março de 2016, Dilma Rousseff teve a certeza de que não terminaria seu mandato. O PMDB, principal sigla de sustentação de sua base no Congresso, estava oficialmente fora do governo petista. Rousseff enfrentava uma crise política aguda.
Neste domingo pela manhã, os ministros do PSDB estiveram com o presidente Temer. No Palácio do Jaburu garantiram que por ora o partido continua na base. Participaram do encontro, segundo a Agência Estado, o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Bruno Araújo (Cidades), que chegou a ameaçar entregar o cargo no dia em que a delação dos empresários do grupo J&F veio a público.
Enquanto os caciques do PSDB tentam manter a sensação de normalidade, diz Afonso Benites, do El País, um movimento entre a bancada tucana já reúne 20 dos 46 deputados da legenda a favor do rompimento com o governo Temer. Eles defendem a entrega de todos os quatro ministérios que ocupam, mas a manutenção do apoio à pauta legislativa da gestão.
Pouco mais de um ano depois do impeachment, o presidente Michel Temer teme que seu destino seja parecido, ao ver o principal partido de sua base aliada rachar. Na versão 2017 da crise política brasileira, o PSDB tornou-se o PMDB. E o desembarque dos tucanos poderia significar a ruína de Temer.
Os caciques do PSDB defendem parcimônia, de olho nas reformas que podem ser implementadas pelo governo Temer. Sabem que um mandato-tampão dificilmente daria a seu detentor o cacife para seguir com medidas tão polêmicas.
Em um artigo publicado no El Pais neste domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirma que o partido não apelou “ao muro”, mas à “prudência”. “Disse no início do atual Governo que ele atravessaria uma pinguela (…) O Governo Temer tem feito um esforço, até maior do que se imaginaria possível, para rearranjar uma situação institucional e financeira desoladora. Apoiei a travessia e espero que a pinguela tenha conserto”.
O ministro tucano das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, também afirmou nesta sexta-feira que o PSDB não era a “madame Bovary“, que insatisfeita com o casamento decidiu trair o marido.