Jesus Cristo nunca existiu

Texto de Jan Le Bris de Kerne 

Não sabiam? Jesus Cristo nunca existiu. E nunca ninguém nos disse isso. Ou melhor: muitos historiadores, arqueólogos e investigadores até o fizeram, mas os seus trabalhos nunca conseguiram impor-se.

O último que decidiu abordar de forma brilhante este tema tabu é Michel Onfray, em Décadence (Flammarion). Um livro ambicioso, com 600 páginas, mas que se devora de um fôlego.

“O judaico-cristianismo triunfa não porque é verdade, mas porque é poder armado, coacção policiária, astúcia política, intimidação marcial. (.) A civilização judaico-cristã constrói-se sobre uma ficção: a de um Jesus que não terá jamais tido outra existência senão alegórica, metafórica, simbólica, mitológica. Não existe desta personagem qualquer prova tangível no seu tempo: com efeito, não se conhece qualquer retrato físico dele, nem na História da Arte que lhe seria contemporânea, nem nos textos dos Evangelhos, onde não se encontra qualquer descrição da personagem. (.) Esta ausência de corpo físico real parece prejudicar um exercício racional conduzido de forma correta. No entanto, é com base neste puro delírio que se vai construir o pensamento ocidental judaico-cristão.”

Michel Onfray, apoiando-se em numerosas referências e em textos incontestáveis, lança-se à desconstrução da “fábula” de Jesus Cristo, sobre a qual repousa a nossa civilização.

Mas também expõe de maneira incisiva as incoerências, as contradições, os absurdos, as mentiras, as violências, os crimes e as loucuras que balizaram a construção da civilização ocidental.

Dessa acumulação de acontecimentos, retira as pistas que explicam o sucesso inicial da conquista judaico-cristã do mundo, e depois as etapas do seu enfraquecimento.

“O corpo de Jesus criança obedece às mesmas leis que o corpo de Jesus adulto: ele não come, não bebe, não ri, não dorme, não sonha, não sofre; não tem qualquer desejo, não se lhe conhece qualquer paixão; não é afetuoso, não é amável com o seu pai, até lhe desobedece; não tem qualquer relação com as raparigas, e a única mulher da sua comitiva é a sua mãe.”

Onfray estuda longamente o papel primordial da violência física no processo de conquista, e desenha uma comparação cruel entre as palavras de paz e de amor de Cristo e o seu desvirtuamento por parte daqueles que se apresentam como os homens de Deus. Como Constantino, o primeiro imperador romano a abraçar a religião cristã: “Este homem que não hesita em matar e mandar matar, em dizimar a sua família e a sua comitiva, que elimina a sua própria esposa e o seu filho com o pretexto de que eles teriam mantido uma relação obscura, não é nem um intelectual ou um filósofo, nem um poeta ou um pensador; é um senhor da guerra cínico e brutal, uma máquina de matar e destruir tudo o que se coloque no seu caminho. É ele que vai impor o cristianismo ao Império e fazer dessa pequena seita, escolhida pelas suas características para assegurar o seu poder de monarca único sobre o Império, uma religião planetária.”

Michel Onfray oferece numerosos exemplos desses massacres perpetrados em nome de Deus, ao longo da História. Por exemplo, aquando da conquista da América pelos colonos espanhóis no século XV: “(o padre e historiador) Las Casas descreve os índios como simples e doces, bons e generosos, pacíficos e obedientes. (.) Os cristãos espanhóis comportam-se com eles como se fossem lobos, tigres e leões em face de gazelas: ‘(.) tudo o que fazem é desfazê-los em pedaços, matá-los, inquietá-los, afligi-los, atormentá-los, e destruí-los através de crueldades estranhas, novas, variadas, jamais vistas, jamais lidas, jamais ouvidas.’ Dos três milhões que compunham aquela comunidade, não haverá agora mais do que 200, escreve o dominicano. (.) Por que razões terão os cristãos exterminado este povo que nunca os tinha ofendido, criticado ou atacado? Pelo ouro, pela prata e pelas riquezas, pelo poder, as honras e a ambição, pelos títulos e pelo domínio.”

“Uma civilização não produz uma religião, é a religião que produz a civilização.” E quanto mais a religião definha, mais o fim se aproxima. Não digam que não foram avisados. (Publicado originalmente no Público)