Continua tenso o clima no município de Viana (MA), de 50 mil habitantes, palco de um embate entre índios da etnia gamela e pequenos agricultores. Esta semana a força-tarefa da Fundação Nacional do Índio inicia o trabalho de reconhecimento da área reivindicada pelos indígenas.
A luta dos gamela na região de Viana não é recente, com ataques registrados da década de 1960 e em 1987. Como em diversas regiões do país, o conflito reflete a dificuldade que rege a titularidade de terras rurais.
Reportagem do El Pais observa que os critérios adotados pela Funai para a definição de indígena consistem na autodeclaração, ou seja, na consciência de um povo de sua identidade indígena, e na heterodeclaração, o reconhecimento dessa identidade por parte do grupo de origem.
O jornal espanhol lembra que os gamela decidiram iniciar em 2015 uma onda de “retomadas”, expressão usada pelos indígenas para definir a ocupação de um território ancestral retirado de seus parentes no passado.
Pelas ruas da cidade, entretanto, essa identidade indígena é rechaçada por parte da população. “Eu vivi minha vida todinha aqui. Sou nascida e criada e nunca que vi essa história de índio por aqui. Eles eram nossos vizinhos, trabalhavam com a gente, estudaram com nossos filhos e agora posso perder a minha casa?”, diz a agricultora Marilene Lindozo Cutrim, 58 anos.
Durante décadas, afirmam eles, seus antepassados foram sendo expulsos, pouco a pouco, daquelas faixas de terra demarcadas pela Colônia. Neste processo, muitos deixaram a área, mudaram para povoados maiores e, neste processo, acabaram casando com não-índios.