A autorização do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, para que sejam investigados oito ministros, 63 congressistas e três governadores citados nas delações da Odebrecht pode abrir ainda mais espaço na política para candidatos que se apresentem como “outsiders” e igrejas, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Vice-diretora do Instituto de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), Flávia Biroli diz que as investigações expõem mais do que um caso de corrupção, e sim “como o Estado brasileiro é permeável à influência dos interesses empresariais”.
Nesse cenário, diz ela, “quando os partidos se enfraquecem e há uma percepção de que o sistema está corrompido, podem se fortalecer atores individuais que se dizem independentes do sistema”.
Entre essas figuras a professora lista o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Cotados como presidenciáveis, os dois costumam criticar a política tradicional e se apresentar como alheios ao sistema.
O professor de Ciência Política da UnB, David Fleischer diz que as investigações baseadas nas delações da Odebrecht podem levar a uma renovação de até 70% da Câmara dos Deputados na próxima eleição, em 2018. Normalmente esse índice é próximo de 50%, segundo ele.
Fleischer afirma, no entanto, que a renovação poderá ser limitada se os parlamentares aprovarem algumas reformas políticas que estão em discussão.
Para Pedro Arruda, professor de ciência política da PUC-SP, as investigações não devem mudar a correlação de forças em Brasília no curto prazo.
Ele diz que pode levar vários anos até que os casos sejam julgados e que muitos políticos alvos de inquéritos “já estavam envolvidos de alguma maneira em denúncias de corrupção”.