Tradicionalmente apontadas como uma espécie de antessala do pleito nacional, as eleições municipais, em 2016, terão peso adicional na definição do quadro político brasileiro dos próximos anos. Alguns elementos ajudam a explicar essa situação.
Em primeiro lugar, a grave crise enfrentada pelo país coloca em xeque a capacidade dos partidos e políticos tradicionais de manterem o status quo. Mesmo nos chamados rincões, onde o eleitor tem menor grau de informação e tende a votar pela manutenção dos grupos no poder, há risco de uma mudança sensível na distribuição de forças a partir de outubro.
Novos nomes, com discursos voltados especialmente para a moralização da coisa pública e a recuperação da combalida economia, podem sensibilizar o eleitorado médio e alterar o quadro.
A crise em curso, por sinal, já mudou a distribuição de forças no Executivo e no Legislativo federais, o que logicamente impactará as eleições de logo mais. O PT, partido que desde 2003 governava a nação e vinha ganhando espaço nos municípios nos últimos pleitos, foi ao menos temporariamente alijado do poder e corre o sério risco de tornar-se um mero figurante.
Caso isso se confirme, e com a potencial derrota do prefeito Fernando Haddad em São Paulo, estará aberto um flanco na esquerda que será ocupado por alguma outra agremiação, pois a política não comporta vácuo. O PSB tem chances de obter êxito nessa empreitada, mas mesmo o PSOL, com as candidaturas de Luiza Erundina em São Paulo e Marcelo Freixo no Rio de Janeiro, não pode ser descartado.
Por fim, entre os elementos centrais dessa realidade, temos o novo formato do processo eleitoral. Uma campanha mais curta, com menos acesso a patrocinadores e recursos, nivelará o jogo “por baixo”. Desse modo, aqueles que apresentarem mensagens mais eficazes, que sejam mais palatáveis ao eleitorado, terão maiores chances de vitória. É inevitável que novidades resultem disso.
Assim, o mapa político brasileiro poderá estar bastante alterado a partir de 2017. A sucessão presidencial, como se sabe, começa já no próximo ano e essa nova realidade obrigará os postulantes ao Planalto a mudarem suas estratégias. A posição dos municípios é central para as definições presidenciais.
O clássico de Milton Nascimento pode ser perfeitamente aplicado à conjuntura. “Nada será como antes”.