As espertezas de um nordestino

A proposta apresentada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, em entrevista coletiva na semana em que o Câmara Alta esteve em evidência, face decisão da Câmara Federal paralisar suas atividades de plenário – é de uma verdadeira Reforma de Estado.

Já se disse que o governo do presidente, em exercício, Michel Temer seria uma acrobacia de trocar o pneu com o carro andando.  A decisão de se colocar em discussão uma sequência de projetos tão destacados, como uma reforma federativa associada com uma nova forma de contratação do Estado e até um imposto sobre doações que namora com a proposta social democrata da taxação das grandes fortunas, pode ser só uma cortina de fumaça em meio a intensa crise que a Operação Lava Jato proporcionou ao país.

Não resta dúvida que o, também, presidente do Congresso Nacional é extremamente viril e cirúrgico em sua ações políticas. Talvez só um extraterrestre poderia imaginar que alguém tão fustigado pela Justiça e vivendo uma saraivada de denúncias pudesse ter disposição para levar temas tão nobres e orgânicos para deliberação justo na Casa Legislativa onde vai se dar o julgamento final do impeachment de uma Presidenta da República.

É bom lembrar aos desaviados que Calheiros é alagoano.  Foi um alagoano, caros, que no comando de uma volante invadiu a Cova de Angicos, no Sergipe, em 28 de junho de 1938, e matou Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. O então tenente da Polícia Militar de Alagoas, João Bezerra da Silva. 

Renan Calheiros não é um extraterrestre, mas da terra do povo que matou Lampião. Sem determinismo, sem admirações desassistidas de juízo. Cabe aqui uma avaliação cuidadosa de que Calheiros ao tomar tal caminho valoriza os senadores e lhes dá uma dimensão mais que circunstancial. Calheiros monta em seu percurso as condições para uma sobrevivência política que é vista como inédita, mas possível.

Questionado se a inclusão no pacotão de temas de Estado de uma nova lei sobre abuso de autoridade não seria uma forma de tentar barrar a Lava Jato, foi categórico em dizer que ninguém iria deter a Operação, mas que tinha suas restrições que não seriam enfrentadas enquanto fosse ele ocupante da Presidência do Senado, mas que poderão ser encaradas após ele largar o posto, em fevereiro de 2017.

A Opinião Pública não está com Calheiros e com quase nenhum membro do Senado e do Parlamento, mas Calheiros sabe que ser sócio de um Governo, seja ele qual for, que ajude a tirar o País do grande torvelinho(?!) em que nos metemos será um bom passaporte para novos saltos.

Se conseguir êxito para tocar alguns dos temas até o chamado recesso e encaminhar algo para mais adiante, após as eleições municipais, mas uma vez esse alagoano dá a classe política brasileira atributos para dizer que o genial é revolucionar para deixar tudo como está.

O Mestre Maquiavel já dizia que “devemos convir que não há coisa mais difícil de se fazer, mais duvidosa de se alcançar, ou mais perigosa de se manejar do que ser o introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos todos aqueles que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a quem as novas instituições beneficiariam”.

O Brasil ainda não está de cabeça para baixo!

Eis o mistério da fé

(Texto do jornalista Genésio Araújo Júnior, editor do site Política Real)

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